Inclusão digital e a publicação de trabalhos dos alunos na web

Jussara Fernandes Oleques – professora

“No ciberespaço, todos podem escrever e publicar. Em tese,  escritores e aspirantes têm as mesmas possibilidades e os mesmos direitos", dizem Beatriz Cardoso - bióloga
e Iris Tempel -psicóloga/UFRGS.

"A possibilidade de os alunos se expressarem, tornarem suas idéias e pesquisas visíveis na internet, confere uma dimensão mais significativa aos trabalhos. A escola se abre para o mundo, o aluno e o professor se expõem, divulgam seus projetos e pesquisas, são avaliados por terceiros “positiva e negativamente", afirma o prof. José Manuel Moran.

Primeiro quero relembrar, rapidamente, os desafios do mundo contemporâneo, em constante transformação que, segundo o professor Nelson Pretto(UFBA), se caracteriza por: Velocidade – Fragmentação – Turbulências e Aceleração. As novas tecnologias geram novas dimensões de TEMPO e ESPAÇO. O tempo dos computadores é medido em nano-segundos (10s). Por exemplo, podemos estar dentro da escola e, ao mesmo tempo estar em diversas partes do mundo. Surgiram novas personagens na escola: o professor Web, o aluno web. Houve mudança no suporte do material didático e surgiram novos ambientes de aprendizagem, que não vou citar aqui, só vou dar alguns exemplos.

 Neste momento, podem estar na Midiateca de nossa escola, grupos de alunos fazendo oficinas online sobre como criar páginas web produzida pelos professores do Lec/UFRGS. Outras oficinas possíveis que também já aconteceram na Escola: de como usar as ferramentas do MSN Spaces, ou de como fazer um blog onde eles podem compartilhar suas idéias, seus projetos de aprendizagem ou de pesquisa e suas fotos, dadas por professores de São Paulo. Outro exemplo: no laboratório de Letramento, em 2005, dava gosto ver a alegria estampada e a cara de felicidade das crianças do II Ciclo, ao ver que pessoas de outros estados, distantes do RS e Porto Alegre, faziam comentários em seus textos semanais no blog “Nosso cantinho na web”. E mais: nos cometários vêm links para o blog ou site dessas pessoas e de seus e-mails onde elas podiam ver suas fotos, seu perfil, sobre o que elas escreviam e responder escrevendo para elas. Também em 2005, os alunos da BP1 que participavam do projeto piloto em Porto Alegre Rede Janelas para o Mundo, do Instituto Vygotsky, entraram no site do projeto e se deram conta de que seus nomes, suas conversas, suas fotos e todo o site da nossa Escola  estavam sendo vistos e lidos na Alemanha (recebemos e-mail de um professor de lá), Austrália,  Argentina, em Mato Grosso (jovens indígenas da aldeia Umutina de quem recebemos fotos) e outros dois grupos de SP (trocaran fotos), porque clicaram no nome do grupo deles (etrosmc) e apareceu o site da Escola (o site Rede Janelas tem tradução para alemão, espanhol, inglês, francês e português). Só não conseguiram “se ver” enquanto conversavam, porque a Procempa, com as conecções da época, não conseguira configurar corretamente a webcam doada pelo projeto.

Na web, Mapa e Território não coincidem. Nosso planeta “encurtou” e esse processo começou há  anos atrás com a criação de outras tecnologias como o avião, o telégrafo, o telefone, a tv e por último a rede web. A Internet que revoluciona a noção de espaço, ao mesmo tempo fortalece o espaço local, os espaços de cultura, a cidade, a escola. Mesmo sendo um grupo humano, uma escola distante dos meios de comunicação, se tiverem um computador conectado à rede, o grupo todo se fortalece e se mantêm as diferenças.

Quero ressaltar a importância de promover o acesso dos alunos à informática nas escolas públicas de periferia porque aí se encontram as crianças, os adolescentes e os jovens anônimos, muitas vezes discriminados pela condição sócio-econômica e étnica e não têm, a não ser na escola, acesso aos bens da cultura entre eles a informática como ferramenta para aprender a conhecer.

É assim que trabalhamos na Monte Cristo: estabelecendo parcerias internas na Escola, compartilhamos os saberes e as adversidades, usando a informática para proporcionar aprendizagens significativas aos alunos, ao mesmo tempo que se promove sua inclusão digital, a exemplo dos projetos ¿Cómo veo Porto Alegre?, Brincando com palavras, Idade Média, Almanaque Indígena do Brasil, Educação anti-racista no cotidiano escolar, Comunicação - o encontro das palavras, Monte Cristo separando o lixo que envolveu todo o I Ciclo, Memórias da Escola: Pais e Filhos, projeto Frisbee no II Ciclo, Jornal Virtual, Escrevendo com Urbim, a Alfabetização digital, Arte culinária na CP, Projeto futebol A33, Hola, qué tal? Bah, tri legal! e Mostra de científica da EJA, as páginas do II Ciclo pela professora Beatriz, as Mostras de Ciência e Tecnologia da Escola, as Vivências de uma turma muito especial, aluno autor de poesias nas C20, o livro da A31 e A34: Leitura com pijama, entre outros. Então os alunos se tornam autores, incluídos na rede mundial, têm sua auto-estima elevada, pois vêem suas capacidades valorizadas. Tornam-se mais autônomos, já que a Internet é um espaço favorável e promotor de autonomia desde que as atividades/projetos sejam bem planejadas, respeitando as diferenças humanas, sempre valorizando a cooperação.

Mesmo com as dificuldades em termos técnicos e de configuração das máquinas, vimos garantindo aos alunos da Monte Cristo o direito que eles têm à inclusão digital. E isso só é possível porque aprendemos cooperativamente, socializamos nossas dificuldades e nossos saberes. Sabemos que outras escolas também fazem muito bem a publicação dos projetos e pesquisas dos alunos. Conhecemos por exemplo, trabalhos excelentes no ambiente informatizado da escola Municipal Marcírio Loureiro que também edita um belo Jornal Virtual, criou ambientes interativos para aprendizagens online no site da escola, entre outras instituções que também promovem a inclusão digital dos alunos.

Somos contra a equalização do mundo. Queremos e trabalhamos na perspectiva de outra globalização de pessoas no plural. Usamos a informática na educação para fortalecer o todo, mantendo as diferenças. Para tanto, as parcerias são necessárias, já que o lugar de nosso suposto saber passa a ser questionado com as informações e os saberes que circulam na rede mundial em que todos os alunos, a priori, podem ter acesso gratuitamente. Com a pesquisa na internet, para além da inclusão digital, eles aprendem a aprender. Ao compartilhar seus trabalhos e opiniões na rede, eles ganham visibilidade e se abrem possibilidades de respeito e valorização à diversidade humana.

Principal