Introdução                


Pois é !

Parece que estamos terminando mais um ano letivo - e o que é mais importante, concluindo um projeto que durou um ano inteiro. Sabe o que é mais incrível ? Ele não só durou - permaneceu aceso durante o ano todo. Tem também outro aspecto igualmente maravilhoso: este projeto foi realizado com 5 turmas de alunos com idade entre 11 a 13 anos, somando no total , entre vindas e idas, 150 queridíssimos alunos.

Objetivos do trabalho? Inúmeros e, com o tempo, outros foram se somando. Estudar geografia do Brasil, alfabetização geográfica, procurar uma relação com o ensino de história nestas mesmas turmas (que no caso é o estudo da Idade Média e a professora é a própria!); fazer com que as aulas fossem mais gostosas, mais criativas; que os alunos deixassem a cópia de lado; que soubessem usar um livro de história e de geografia, desde o momento de sua escolha, até ter autonomia para entender um índice, uma bibliografia, relacionar os capítulos e não perguntar mais à professora em que página está tal assunto; saber pesquisar, tanto nos livros, quanto nos atlas, em sites, enciclopédias, almanaques, jornais, revistas, filmes; conhecer e se apropriar dos diversos momentos de uma pesquisa, desde tomar conhecimento do assunto, passar por leituras - apenas leituras, sem copiar nada (foi um momento terrível), selecionar o tema a ser estudado, formar duplas de pesquisa (duplas e não divisão do trabalho em dois!), utilizar blocos de papel reciclado para realizar os apontamentos; aceitar que nem tudo pesquisado será aproveitado para o trabalho final; não passar a limpo uma pesquisa inicial, porque ela não é o objeto final de nosso estudo; deixar as duplas de pesquisa e formar novos pares para a escrita - ainda em rascunho - do trabalho; pensar como seria escrever um livro: capítulos, introduções, bibliografia, manter a autoria dos autores pesquisados; deixar sua turma; passar a trabalhar dentro do horário de aula de geografia e história, mas também realizar encontros com os colegas de outras turmas, inclusive de turno contrário para dar conta do projeto de trabalho; quebrar com períodos de 50 minutos e o que é pior, em dias de reunião de professores os períodos são de 30 minutos! Realizar, de fato, um trabalho coletivo, onde surgem novos problemas, mas se criam novas formas de solucioná-los.

Daí surge a idéia de escrever o Almanaque Indígena do Brasil - Hoje ! Novas surpresas - o material é muito escasso, mas o que encontramos (veja nossa bibliografia) foi muito rico! Não trabalhamos a questão indígena do passado. Nosso objeto de estudo são os povos nos dias de hoje: quem são, como vivem, quais os problemas, como é a convivência com as cidades e nas cidades, a relação com os brancos. Apesar de não entrarmos na pesquisa sobre o ontem, é impossível que o passado não tenha relação direta com o presente. Nada foi comentado sobre a colonização dos europeus nestas terras - quem se deu conta das diferenças entre as regiões do Brasil foram os próprios alunos quando não conseguiam encontrar material sobre os povos indígenas de muitos estados limítrofes com o Oceano Atlântico - e foram atrás, descobrindo assim, o racismo, a exploração, as doenças e o que mais a civilização branca européia deixou para os povos indígenas.

POVOS INDÍGENAS! É isso mesmo. Chega de chamar índio de índio! Cada povo indígena tem seus costumes e suas crenças, tem sua própria língua. O Tupi não é a língua de todos os povos. É sim um grande tronco lingüístico. Cada povo, ou melhor, cada reserva indígena tem hoje inúmeros problemas a enfrentar, desde a não aceitação, de muitos, de que a questão da terra é importante para os povos - ainda mais se as terras são ricas em algum minério ou madeira, por exemplo. Pior ainda é enfrentar a biopirataria que ocorre em nosso país e que muitas vezes quem sofre diretamente com isso são os povos indígenas. A exploração de suas terras (quando as têm), de suas filhas e de seus conhecimentos é realizada no dia-a-dia e muitas vezes bem pertinho da gente.

Os povos indígenas tentam se recuperar e reencontrar sua cultura, não deixando de ser indígena apesar do contato com outros povos, usando fogão e geladeira, tomando refrigerante e comendo "comida do branco", inserindo-se no mercado de trabalho, entrando para universidades ou assumindo postos políticos.

Muitos povos indígenas estão em busca de suas raízes, retomando sua cultura, mas de modo algum retornando à pré-história.

Vimos que muitos povos estão numa caminhada muito interessante de conhecer mais profundamente os costumes dos brancos. Muitos estão reivindicando escolas bilíngües nas reservas para que as crianças aprendam desde cedo a língua portuguesa e nossos costumes. Outros buscam, numa caminhada mais avançada, escolas do ensino médio e a universidade. Seria uma integração, um render-se aos costumes de quem veio de fora? Para alguns povos até pode ser isso, mas o que vimos na maioria das vezes é a busca do conhecimento universal para poderem lutar - sem perder de modo algum seus costumes e suas tradições - mas somando ao seu conhecimento, este novo saber e tornando-se, eles próprios, donos dos processos de lutas que terão pela frente, tornando-se médicos, advogados, formando ONGs e associações em defesa de seus valores e princípios.

Mas nem todos povos têm suas terras. Alguns vivem em beiras de estradas ou acampados em qualquer lugar. Outros vivem nas cidades, em barracos ou em lonas. Outros deixaram seus costumes e passaram a ser brancos, segundo o que nos foi contado pelo professor Marcos, da reserva Guarani-Mbyá do Canta Galo/Viamão/RS.

Organização do trabalho!

Começamos em abril, trabalho em duplas de pesquisa dentro da sala da turma, com pesquisa sobre os povos indígenas e posteriormente sobre os estados brasileiros. Esta pesquisa inicial durou até meados de setembro. De setembro a meados de outubro escolhemos o formato do livro e fizemos um "boneco" do nosso almanaque, descartando assim parte da pesquisa inicial e ficando apenas com o conteúdo que iríamos publicar. Foi o momento de reescrita dos trabalhos, já no formato final. No mês de outubro as duplas foram desfeitas e as turmas também. Formaram-se cinco grandes grupos de trabalho, cada grupo com seus coordenadores que, além de coordenar, eram responsáveis pela chamada extra-oficial e por solucionar quaisquer problemas. Os grupos foram: Web Designer, Redação, Reportagem, Lendas e Desenho e Fotografia.

As tarefas: Grupo da Web ficou responsável pela elaboração do nosso site, seguindo, é claro, o "boneco" aprovado. Grupo da Redação, ou Os Redatores, subdividiram-se em cinco grupos: Redação Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Eram os encarregados de unir todas as pesquisas das duplas, reescrevê-las no papel e depois digitá-las. Grupo da Reportagem, ou Os Repórteres, era responsável por todas as manchetes e notícias. Como não tínhamos condições de ir atrás de notícias como fazem os jornalistas, usamos o que eles já fizeram. Leitura de jornais e revistas, seleção e comentário sobre o material. Grupo do Desenho e Fotografia era responsável pela ilustração do site, desde a elaboração dos desenhos, como a seleção de fotos e de desenhos publicados. Nesse grupo surgiu a figura do fotógrafo oficial do site, até porque era necessário também fotografar todas as etapas do processo de pesquisa e a professora já estava cansada desta tarefa. Grupo das Lendas ficou responsável pela leitura, seleção e digitação das lendas. Este grupo também elaborou desenhos sobre as leituras realizadas. É o grupo sonhador, uma delícia sentar em roda e assistir todos contando suas lendas escolhidas e tecendo comentários.

Problemas???

É claro que ocorreram. Como, por exemplo, alguém entrar na pasta pública do laboratório de informática e simplesmente deletar parte do conteúdo digitado pelos alunos - e isso na etapa final do trabalho, em que muitos alunos já haviam se desfeito de seus "rascunhos" - fato que prejudicou, e muito, a apresentação final do site - mas de modo algum o nosso processo; algumas duplas não funcionaram; alguns alunos foram transferidos de escola, tanto para outras, como de outras para a nossa; nos estados do Piauí e Rio Grande do Norte foi quase impossível encontrar algum material sobre os povos indígenas; as impressoras dos alunos falharam e tivemos que usar as de uso particular, pois não contamos com outras; alguns computadores resolveram não mais salvar documentos.

Enfim, diversos problemas ocorreram. Mas sempre demos a volta por cima, pois os ganhos foram enormemente maiores do que os problemas.

Durante o processo percebeu-se claramente o crescimento dos "piás", trabalhando com total autonomia, marcando reuniões com grupos de trabalho, alunos de turno contrário entrando na sala de outras turmas, nos horários de pesquisa para "dar uma mão" no trabalho. Alunos dizendo "na cara" da professora que agora aprendem sozinhos, porque de fato aprenderam sozinhos, a professora só mostrou o caminho. Alunos usando os conhecimentos da geografia física e os conceitos geográficos e matemáticos para ler um mapa, para se localizar. Alunos dizendo que "aqui não tem diferença entre professor e aluno - é tudo igual", um depende do outro, para aprender e para ensinar. É lindo ver o olho deles brilhando quando um assunto novo vem à tona ou quando se dão conta de que sabem mais e que podem debater assuntos com mais tranqüilidade. O processo de trabalho ao longo do ano de 2003 foi, de fato, gratificante.

Nosso grande sonho era escrever um "almanaque de livro" e não um "almanaque de site".

Um dos nossos grandes problemas foi o fato de nos darmos conta de que nosso sonho custaria muito caro. Quem bancaria a edição de um livro? Fabricação caseira? Para 150 alunos + professora + biblioteca da escola + professores que se apaixonaram pela idéia = a um dinheirão!

Não tínhamos condições de bancar o livro. Por mais que um site seja algo prazeroso de se montar, por mais que a rede mundial de computadores te dê condições de, em qualquer lugar do mundo acessar o site, um livro é um livro. Cada um se ver ao folhear as páginas, ver seu nome escrito, ter a tal da noite de autógrafos, nada disso se compara. Mas, a vida é assim mesmo. Usamos o "boneco" que estruturou o livro no site e fomos "pro mundo"!

Para realizar este trabalho contamos com a valiosa colaboração do povo Guarani-Mbyá (Canta Galo/Viamão/RS) e do professor bilíngüe Marcos que estiveram na escola durante o dia inteiro de 15/04/03 a convite do Projeto Rodamundo, coordenado pelas professoras Rosinaura Lisboa de Barros, coordenadora da biblioteca, e Gilse Helena Magalhães Fortes, da coordenação cultural de nossa escola. Neste dia, tivemos momentos de conversas com seus representantes (os mais velhos não falavam português), contamos também com apresentação de danças, música, mostra e venda de artesanato. Em junho visitamos a reserva, onde fomos muito bem acolhidos num dia de inverno chuvoso.

Recebemos também, do Prefeito de Porto Alegre, João Verle, um cocar e um tacape que lhe foram presenteados pelos índios Kaingangues em função da doação de terras para o primeiro assentamento indígena urbano no Brasil, no bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. Esta doação agora faz parte do acervo da biblioteca da escola.

Contamos também, com uma mostra de painéis sobre a Questão Indígena no Brasil, do Centro de Pesquisa da Câmara Municipal de Porto Alegre e outra, de fotos do Conselho de Missão entre Índios - COMIN, de São Leopoldo- sob coordenação da biblioteca e coordenação cultural da escola.

A professora Jussara Fernandes Oleques, que coordena o Laboratório de Informática, não só colocou o espaço à disposição para pesquisa e escrita dos trabalhos, como solicitou endereços eletrônicos individuais para auxiliar os alunos e produziu um foto álbum do projeto, colocando nosso trabalho para o mundo antes mesmo dele ter terminado. Isso sem falar do complemento de informática, que nos possibilitou formar o grupo da Web, dando vida ao nosso site.

Assistimos ao filme documentário Índios Urbanos, sobre os Kaingangues de Nonoai e da reserva urbana em Porto Alegre no bairro da Lomba do Pinheiro - produção da Communica cooperativa de comunicação, e realizamos um debate com o Wagner Machado, que escreveu e dirigiu o filme.

Montamos três exemplares de mais ou menos 60 páginas cada, com reportagens de jornais e revistas do ano de 2003.

Pesquisamos em diversos livros e sites, mas nosso trabalho foi embasado principalmente nos sites da socioambiental.org (do qual foram extraídos os quadros dos povos e grande parte dos textos sobre os povos indígenas) e ibge.gov.br/ibgeteen, no livro A Temática Indígena na sala de aula, organizada por Aracy Lopes da Silva e pela leitura de jornais e revistas. Todo este material foi selecionado com a parceria da Biblioteca da escola, que montou caixas de pesquisa para os alunos.

Quer mais? Venha sentir esta energia toda que este trabalhão tem, venha se deliciar conosco, com esta experiência didática e super pedagógica que foi montada no decorrer deste ano entre uma professora - com seus altos e baixos, com seus maravilhosos 150 alunos e com poucas, mas preciosas parcerias de colegas desta escola.

Malu Pinto

Professora de História e Geografia


Lucas Daniel-C12

 

volta para página da escola


Lendas


Apresentação


Introdução


Mapa IBGE


N


NE


S


SE


CO


Bibliografia


Site


Agradecimentos

Álbum de Fotos

volta para abertura do Almanaque

O logotipo - um índiozinho lendo o Almanaque é produção do aluno Lucas Daniel-C12
                                                                                                                                           Profª Malu Pinto