A SEXUALIDADE NAS DIFERENTES ÉPOCAS E CULTURAS ATÉ O SÉCULO XX

Desde que o mundo é mundo, a sexualidade é parte essencial da vida do homem. Tem ocupado lugar na mitologia, na filosofia, nas artes, em toda forma de representação e conhecimento humano, inclusive, mais recentemente, nas Ciências.
O ser humano é confrontado, desde a aurora de sua existência, com uma dupla dimensão: de um lado o cosmos, o mundo natural em que está mergulhado e, de outro, seu corpo e mais precisamente o caráter sexual desse corpo. É a partir dessa dupla polaridade que ele se insere no mundo e cria os símbolos de sua existência social e seus mitos.

Já nas diferentes versões mitológicas da Gênese, ou seja, nas explicações sobre a origem do homem no mundo – Adão e Eva, Lilith e outros -, a sexualidade é assunto central de muitos tratados. Ela sempre foi vivida e pensada de diversos modos, dependendo da cultura, e pode ser estudada sob vários ângulos.

Alguns acontecimentos registrados na nossa história ilustram a importância da sexualidade na cultura:

A civilização babilônica (nosso ancestral cultural mais antigo) cultivava o amor sensual e se orgulhava disso, assim como do conjunto da cultura que construiu. Outro fato exemplar desses diferentes modos de viver a sexualidade é a pederastia (relação entre homens maduros e jovens) na Grécia antiga. Essas relações ocupavam lugar de destaque naquela sociedade e tinham a função de transformar o jovem em cidadão da Pólis. Chamadas de homofilia por alguns estudiosos, essas relações evoluíam para a amizade (philia) entre os mais velhos e os jovens adultos e não tinham o sentido de homossexualidade como a entendemos hoje.

Segundo historiadores, foi o Cristianismo que introduziu a noção de “pecado da carne”, embora desde a Antigüidade já houvesse a exortação ao domínio de si e dos prazeres, como entre os espartanos. Ainda hoje é possível encontrar na sexualidade e nas práticas sexuais sinais legados pelo Cristianismo para a história da civilização ocidental, associados a interditos (proibições), como a noção de culpa.

Os tabus têm origem em diferentes épocas e culturas: o incesto, por exemplo, tem ligação com a melhoria biológica da espécie; já a exigência de preservação da virgindade feminina antes do casamento aparece na sociedade ocidental em um momento de mudança político-econômica, em que a propriedade privada ocupa lugar de destaque no campo social. A transmissão de bens materiais e de propriedades deveria se dar unicamente aos descendentes legítimos (a virgindade da mulher, ao se casar, e a fidelidade ao marido seriam a garantia disso).

Os séculos XII e XIII foram marcados pela moral sexual do mundo cristão porque, nessa época, as normas se fixaram em três direções: o pecado; a separação entre clérigos e leigos; e o casamento. O matrimônio surge como uma concessão, um remédio para tratar o ardor do desejo sexual. Disse o apóstolo Paulo aos coríntios: “É bom para o homem abster-se da mulher. Mas, por causa das fornicações, que cada homem tenha sua mulher, e, cada mulher, seu marido.” (I Cor, VII, 1-2) Toda a Idade Média é marcada pela noção do pecado. É o período em que se queimavam as mulheres acusadas de bruxaria e do apogeu das práticas de auto-flagelação.

  A “Era Vitoriana”, no século XIX, durante o reinado da Rainha Vitória na Inglaterra, ficou bastante
conhecida pela rígida repressão das práticas sexuais, acompanhadas de intensa valorização
da vida familiar.


Já na segunda metade do século XX, assistimos nas sociedades ocidentais a uma verdadeira revolução nas relações homem/mulher e no papel social feminino. A introdução da pílula anticoncepcional no mercado, na década de 60, propicia a separação entre ato sexual e procriação, trazendo importantes transformações, como a liberação da mulher em relação à gravidez indesejada e a possibilidade da conquista de maior igualdade em relação ao homem.

Texto original: Yara Sayão e Silvio Duarte BockEdição: Equipe EducaRede


                                                   HOME