SENTIDOS DO CORPO
Janela sobre o corpo
A Igreja diz: O corpo é uma culpa.
A Ciência diz: O corpo é uma máquina.
A publicidade diz: O corpo é um negócio.
O corpo diz: Eu sou uma festa.
(Eduardo Galeano)



Para começo de conversa, é necessário fazer a distinção entre os conceitos de organismo e corpo. O organismo refere-se à infra-estrutura biológica dos seres humanos, a nossa herança biológica, ou ao conjunto de milhares de células que constitui cada um de nós, cujo funcionamento já é codificado e herdado. Já o conceito de corpo diz respeito aos significados e sentidos que podemos atribuir a qualquer interação que se estabelece (consigo mesmo, com os outros ou com objetos). Ou seja, o corpo é o organismo atravessado por todas as experiências vividas, pela inteligência e pelo desejo.

No conceito de corpo, portanto, estão incluídas as dimensões da aprendizagem e todas as potencialidades do indivíduo de se apropriar de suas vivências. Isto significa que é por meio do conceito de corpo que podemos compreender o modo particular como cada um organiza e sente tudo o que vive, atribuindo sentido a cada experiência. A capacidade de emitir sons, por exemplo, depende de condições anatômicas enquanto que a linguagem é uma forma de articular sons e significados que tem de ser aprendida.

A partir dessa diferenciação, é possível perceber que a abordagem da sexualidade deve ir além das informações sobre anatomia e funcionamento do corpo, pois os órgãos não existiriam fora de um corpo que pulsa e sente. Conheça melhor os órgãos sexuais masculinos e femininos.

O corpo é concebido como um todo integrado de sistemas interligados, que inclui emoções, sentimentos, sensações de prazer e desprazer, assim como as transformações nele ocorridas ao longo do tempo. Há que se considerar, portanto, os fatores culturais que intervêm na construção da percepção do corpo. Isso quer dizer que o corpo traz em si as marcas da vida social que expressam valores de grupos e culturas.

A partir dessa abordagem podemos pensar, por exemplo, na importância pessoal e social das inscrições realizadas no corpo, algumas tão significativas para os adolescentes, como as tatuagens e piercings. Diferente do que muitos podem pensar, essas práticas não são novidadovidade e muito menos invenção nossa. Um exemplo disso são os adornos tribais, largamente utilizados em muitas culturas indígenas. Que relação há na adoção de hábitos similares em culturas tão distintas?

Alguns antropólogos afirmam que praticamente toda sociedade fere de alguma forma o corpo por razões rituais, signo de status ou ainda por motivos estéticos: nas superfícies dos corpos estão as evidências da profundeza da vida social. A quase totalidade das comunidades indígenas conhecidas de diferentes pontos do mundo utiliza a pintura nos corpos para marcar diferentes situações: identificação de etnia, estado de guerra, comemoração da colheita, ritual de passagem, homenagem a alguma divindade.

Na atualidade, a divulgação repetitiva pela mídia de corpos magros, longilíneos, esbeltos, de pele branca, cabelos loiros e olhos azuis, associada ao consumo de produtos, de forma latente ou explícita, promove uma idealização desse tipo físico corporal, relacionando-o aos ideais de beleza, saúde, felicidade e ao poder de atração sexual.

Padrões de beleza




Esses modelos - cujo padrão estético não corresponde ao tipo físico mais freqüente em nosso país - podem contribuir para a construção de uma auto-imagem negativa para aqueles que não se enquadram nesse padrão veiculado pelas propagandas. As crianças e os jovens podem se sentir “feios” e, conseqüentemente, diminuídos nas possibilidades de auto-aceitação e auto-cuidado, quesitos tão necessários para a busca de prazer nas relações afetivas.

Essa insatisfação tem como conseqüência, por exemplo, o aumento de distúrbios alimentares (como obesidade, anorexia, bulimia) entre mulheres adolescentes em vários países do mundo. Ou, ainda, o incrível recorde brasileiro de cirurgias plásticas estéticas. Sabemos que são padrões culturais que estabelecem o que se considera belo ou não, e isso varia em diferentes momentos da história e em diferentes culturas. Já houve época em que as “carnes fartas” das mulheres é que eram valorizadas esteticamente.

Texto original: Yara Sayão e Silvio Duarte Bock
Edição: Equipe EducaRede


                                                                                                                                                          
HOME