Lendas
Pesquisadores: Alexandre Da Cunha Blehm - Biatriz Erci Da Silva Rodrigues - Carlos Luiz Da Silva Moreira - Cassio Echart Teixeira - Daiene Gantes Guimaraes - Daniele Colares Pereira - Jéferson Ferreira De Souza - Jessica Dos Santos Silveira - Jessica Keis De Almeida - Jeverton Luis Escalante Oliveira - Marco Aurélio Lissarassa Dias - Mateus Da Silva Weber - Moises Estulano De Lima - Pablo Cesar Silva Do Amarante - Priscila Lopes Da Rosa - Rafael Gonçalves Da Silva - Rochele Barbosa Pereira - Thiago Vieira Da Luz - Vinicius Brito Da Silva - Vinicius Guimaraes Do Nascimento - Viviana Freitas Silveira
A FESTA DO JABUTI Mal clareara o dia, e a mãe de Piritu já estava peneirando uma massa de mandioca e batata roxa para preparar sakura, uma bebida fermentada que o Tiriyó costumam dizer que se parece com a cerveja dos brancos. Nessa época do ano, o sol nasce cedo atrás das montanhas e nos campos da fronteira de dois países vizinhos Brasil e o Suriname, lá no norte do Pará, onde moram os Tiriyó. Piritu ainda dormia, mas a agitação crescia na sua casa e nas outras da aldeia, na medida em que as pessoas iam acordando. Na casa de Piritu, sua irmã também já estava em pé, ajudando a mãe a preparar a bebida. Quando Piritu acordou, com os olhos cheios de remela de quem tinha dormido bem a noite toda, sua mãe já estava com três panelas grandes, cheias até a boca, com a bebida. Aí abriu a boca para perguntar sobre onde andava seu pai, calou-se ao ver as panelas de sakuru. A imagem da bebida, em tom arroxeado, por causa da batata, trouxe-lhe à lembrança as conversas da noite anterior, em que seu pai e outros homens da aldeias combinavam de sair para a mata bem cedo, quando o céu ainda estivesse escuro, para encontrar com outros homens que há dois dias atrás haviam ido caçar jabutis. A recordação daquela conversa fez com que eles ficassem eufóricos e abrissem um sorriso maroto. E havia um motivo: é que naquele dia, no final da manhã, os homens voltariam para a aldeia, trazendo jabutis e outros bichos que conseguissem caçar. E com a sua chegada, começaria a festa do jabuti e a festa de natal. |
COMO SURGIU A LUA Vivia numa tribo uma cobra enorme, a Boiúna Capei, que aterrorizava os índios. Para que a Boiúna não atacasse os índios, o cacique prometeu que lhe daria sua filha Naipi em casamento. Naipi era uma jovem formosa e de bom coração. Naipi queria salvar a tribo, mas na verdade era apaixonada por Titçatê, um valente guerreiro. Quando estavam juntos, até a natureza comemorava, tão grande era o amor um pelo outro. Quando chegou o momento de Naipi ser entregue à Boiúna, ela rompeu em pranto e, de joelhos, suplicou ao pai que não a levasse. Titçatê, cheio de coragem, colocou-se à frente da cobra gigante, empunhando arco e flecha. Vendo que era rejeitada pela formosa índia, Boiúna ficou furiosa e usou seus poderes para transformar a moça numa cachoeira chorosa. O guerreiro foi transformado numa linda planta de flores roxas, que ficou boiando sobre a água. Vendo a forma como fora destruído o amor dos dois jovens, os outros índios encheram-se de coragem e atacaram Boiúna, arrancando-lhe a cabeça. Como castigo por sua maldade, Tupã ordenou que a imensa cabeça da cobra fosse pendurada no céu durante a noite e, na forma de Lua, ficasse a iluminar o amor de Naipi e Titçatê. |
O BOITATÁ Imagine uma enorme serpente com olhos brilhantes e vermelhos e que solta fogo pela boca...dá medo só de pensar! Esta é a representação do Boitatá. O Boitatá é uma lenda indígena e, em Tupi, "Tatá" significa fogo. Este mito brasileiro é também conhecido como Batatão, Baitatá Batatal ou Bitatá. Dizem que é o mais perigoso dos habitantes lendários da floresta. O Boitatá ataca animais e homens, mas devora somente os olhos de suas vítimas e é por isso que seu olhar está sempre iluminado. |
IARA Você já viu uma sereia? As sereias estão no imaginário popular desde cedo. São muitas as história que ouvimos falando deste ser encantado. A Iara é uma lenda do folclore brasileiro comum na região amazônica. Dizem que a Iara é uma bela mulher, parecida com uma índia de longos cabelos negros. Ao entardecer ela sai das profundezas d'água e vem sentar-se numa pedra onde penteia os cabelos com um pente de prata, mirando-se num espelho. O que diferencia a Iara de uma mulher comum é sua forma: mulher até a cintura e ao invés de pernas humanas, ela possui uma longa cauda como um peixe. Com sua voz delicada e seu canto maravilhoso, a Iara seduz os homens, que hipnotizados, são levados para o fundo dos rios, onde desaparecem para sempre. Se você ouvir um belo canto à bera de um rio, cuidado! Pode ser o canto da sereia... |
O MENINO POTI Lá na mata vive o menino Poti. Ele vive numa oca, lá na taba. Poti é bonito, com pena de tucano no peito. O menino Poti vai de canoa pela mata. A canoa leva o pote, o pote leva muita banana. Poti vê o tatu e a cutia, vê o tucano e o tico–tico. E o bebe–macaco vê o Poti, ai ele pula, cai lá da moita e bate o pé no toco. Ai ai ai, coitado do macaco. Poti vê o macaco caído e cuida dele. O menino bota o macaco na canoa e o danado come toda banana do pote. A canoa leva Poti até a taba e ele leva o macaco no colo. Aí o pai de Poti leva muita banana até a taba. E o bebe-macaco come muito. De noite, a lua alumia a taba toda. Tudo iluminado ! Alumia até Poti no colo do pai e alumia o macaco de banana na boca. |
COMO SURGIRAM AS ESTRELAS Era um tempo de grande seca para as tribos e não havia alimento. As índias reunidas saíram em busca de comida para os maridos e os filhos. Procuraram por todo o lugar, mas não viam caça, nem fruto, nem nada para comer. Então resolveram levar junto um grupo de curumins para darem sorte. E deu certo. Logo acharam um grande milharal em que as espigas não haviam sido atingidas totalmente pela seca. Ali, puderam encher os cestos com espigas amarelinhas. Os curumins também ajudaram a colher o milho, mas ficaram com fome e voltaram antes para tribo, carregando uma boa parte. Na tribo, pediram para a avó fazer um bolo. Ela fez e não demorou a comerem tudinho. Só ficaram as migalhas que os pássaros devoraram. Quando terminaram ficaram com vergonha. Como podiam ter comido tudo sozinhos quando todos estavam com fome? Com medo de que as mães os repreendessem, eles trataram de fugir. Pediram para o colibri que amarrasse no céu o maior cipó que encontrasse, e por ele começaram a subir. Quando notaram o sumiço dos curumins, as índias ficaram preocupadas e voltaram correndo para a tribo. Quando chegaram, viram os curumins subindo o cipó. Assustadas, elas começaram a subir também os cipós para salvar os curumins, mas eles estavam cada vez mais alto. O cipó não era forte e rompeu com o peso. As índias caíram no chão, transformando-se em onças. Os curumins, que já estavam no céu, não conseguiram mais voltar. Assim, durante a noite, da tribo, quem olhasse para o céu ainda podia ver os pontinhos brilhantes dos olhinhos dos curumins, transformados em grandes estrelas. |
O GAVIÃO Um jovem Araweté aprende cedo a fazer suas próprias armas e a percorrer sozinho as matas e rios, caçando e pescando. Já tem sua casa e produz seu próprio alimento. Acaba de sair do mundo infantil e começa a viver o cotidiano adulto na aldeia. A estação seca foi mais longa este ano. As águas do igarapé Ipixuna, que passa em frente à aldeia, estão no seu nível mais baixo. O milho plantado na estação das chuvas foi colhido e distribuído entre as famílias da aldeia. Nesta época um pouco mais calma, os Arawéte passam algum tempo na floresta. Os Arawéte conhecem bem os animais que vivem na sua região. A maioria dos filhotes trazidos para a aldeia sobrevivem e crescem sadios. As mulheres dedicam à sua alimentação uma atenção especial aos pequenos pássaros. Elas servem papa de milho mastigada, e aos mamíferos oferecem o peito. No dia seguinte, o menino sobe numa árvore e captura um filhote de gavião-real. Afeiçoa-se a ele rapidamente, adquirindo grande intimidade com o animal. Este gavião, que os Arawéte chamam CANOHO, tem um forte valor simbólico, por ser capaz de voar muito alto, chegando próximo ao céu, onde habitam os "Mai", os deuses celestes. De volta a aldeia com o Gavião, o menino desperta a admiração de todos. Diariamente os dois são cercados por crianças que acompanham atentamente sua alimentação. O animal cresce muito e suas poderosas garras tornam-se uma preocupação para os adultos. A preocupação era justificada, pois o gavião acaba atacando e ferindo uma criança. Felizmente os pais estavam próximos e a socorreram rapidamente. Os adultos se reúnem e ordenam ao jovem que se desfaça do animal. Com muita tristeza, ele cumpre a ordem, soltando-o na floresta. Na floresta o tempo passa vagarosamente, fechando todas as feridas. Os meninos correm pela aldeia e os jovens fazem suas caçadas. É numa delas que o menino vê um grande gavião adulto pousado nos galhos de uma castanheira. Com alegria, pensa consigo mesmo se não se tratava do animal que ele havia criado. Ao fim do dia, a aldeia se reúne. Próximo a irmã, que fia algodão, o menino, sentado, observa ao longe o vôo do gavião sobre a aldeia. Compreende então todos os sentimentos de respeito e admiração que esse animal desperta. |
COMO SURGIU A NOITE No começo do mundo, só havia dia. A noite estava adormecida nas profundezas das águas com Boiúna, uma cobra grande que era senhora do rio. A filha de Boiúna, uma moça muito bonita, havia se casado com um rapaz de um vilarejo, nas margens do rio. N a hora de dormir, ela não conseguia e explicava para marido: - É porque ainda não é noite. Um dia, a moça pediu ao marido que fosse buscar a noite na casa de sua mãe. Ele mandou três amigos às profundezas do rio para falar com Boiúna. Boiúna colocou a noite dentro de um caroço de tucumã, uma fruta da palmeira, e mandou entregar como se fosse um presente para sua filha. Os três amigos carregavam o tucumã quando ouviram o barulho de sapinhos e grilos, bichinhos que só cantam à noite. Curiosos, resolveram abrir o tucumã para ver que barulho era aquele. Quando o tucumã foi aberto, a noite escapou e tomou conta de tudo. O mundo virou uma escuridão só. A filha de Boiúna viu o que tinha acontecido e tentou separar a noite do dia. Pegou dois fios, enrolou o primeiro, pintou de branco e disse: - Você será Cujubim e vai cantar sempre que o dia nascer. Então, soltou o fio, que se transformou em pássaro, e saiu voando. Depois, enrolou o outro fio, jogou cinza sobre ele e disse: - Você será Coruja, e cantará quando a noite chegar. A coruja saiu voando. A partir desse dia, o mundo passou a ter dia e noite. |
POR QUE EXISTEM CORES DIFERENTES NOS PEIXES Havia um índio Kamayura, robusto e ágil, que estava se preparando para ser guerreiro. Mas um dia, seu irmão, que ele muito amava, morreu estranhamente, devorado por um dos animais que vivia na lagoa próxima, Desgostoso, decidiu mudar de aldeia e foi a uma outra, vizinha, onde havia uma lagoa muito grande. Pintou-se fortemente de urucum e de jenipapo, armou um jirau bem no meio da lagoa e passava o dia, cheio de raiva, matando com flechadas certeiras todos os peixes que passassem por perto : pintados, tucunarés, bonitos, piranhas, jaraquis e outros. Trouxe muito medo e insegurança a todos os peixes da lagoa. Na medida em que a ameaça crescia, o medo se transformou em raiva. E como a matança continuava, dia após dia, a raiva se converteu em revolta generalizada. Isso porque o perverso Kamayura não respeitava mais ninguém. Num belo dia, matou o filhote do peixe-cachorro que, na época, era o chefe de todos os peixes dos rios e dos lagos. Este ficou furioso, reuniu todos os peixes e disse com voz ameaçadora : - Precisamos dar cabo desse Kamayura ensandecido, senão ele vai matar todos nós. Todos os peixes concordaram e ali mesmo atracaram a estratégia. Deveriam derrubar o Kamayura de seu jirau e pôr fim àquela matança. Decidiram, então, convidar os peixes saltadores para que eles, com sua conhecida habilidade em dar pulos altos, pudessem derrubar o índio assassino. Eles, com certo receio, mas solidários, aceitaram. Vieram dois, o marido e a mulher. Colocaram-se bem diante do índio. O primeiro, o marido, saltou bem alto. Mas, antes que atingisse o jirau, recebeu uma flecha bem no meio do corpo e caiu morto na água. Em seguida, saltou a mulher. Sequer conseguiu chegar ao alto, que já foi atingida também com uma flecha pontiaguda e caiu morta na água. Todos os peixes choraram de tristeza, fazendo aumentar ainda mais o medo. Resolveram, então, chamar outro casal de peixes saltadores, do lago vizinho. Vieram muitos. Ao chegar, o chefe deles disse : - Vocês todos, fiquem aqui ao longe, a salvo da flechas inimigas. Vou escalar dois que vão derrubar o índio mau. Um casal se aproximou e se postou diante do Kamayura. Saltou primeiro o marido. Deu um forte salto, mas antes de chegar à altura do jirau, foi atingido por uma flecha assassina e caiu pesadamente na água. Logo em seguida, saltou a mulher. Tomou impulso, mas foi logo flechada, bem antes de ameaçar o Kamayura. Os saltadores vindos do lago vizinho se sentiram desmoralizados. Não puderam ajudar seus irmãos e irmãs ameaçados em nada. Todos se encheram de mais fúria ainda e foram tomados por um medo imobilizador. Como sair desse impasse ? Depois de muito discutir, viram que não tinham outra alternativa senão continuar com outros peixes saltadores, desta vez, de outro lago mais distante., conhecidos como muito hábeis e inteligentes. Foram a eles, explicaram a situação desesperadora e contaram como, antes deles, seus colegas saltadores foram mortos pelo índio enfurecido. Antes de decidirem se iriam aceitar ou recusar o convite, os convidados quiseram saber todos os detalhes. O chefe deles perguntou : - Os saltadores que foram mortos se postaram na frente ou atrás do índio ? Saltou um por vez, ou em duplas, ao mesmo tempo ? A que altura foram flechados ? Ao ouvir as respostas, o chefe disse: - Meus irmãos e irmãs, vocês foram afoitos e cometeram dois erros elementares. Por isso, os colegas de vocês foram mortos. O primeiro, foi o de terem-se colocado diante do nariz do Kamayura. Assim, ele podia ver vocês, mirar a flecha e disparar de forma certeira. O segundo erro foi o de pular um de cada vez. Dessa forma, o índio podia concentrar-se somente num e eliminá-lo com facilidade. A estratégia correta é a seguinte : primeiro, colocar-se sempre atrás do índio. Fazê-lo girar até ficar meio tonto. Depois, quando já estiver perturbado, saltar pelos lados, marido e mulher ao mesmo tempo, para atingir o índio caçador na altura das orelhas. Dar-lhe uma pancada forte em cada lado. Assim, ele cairá tonto e sem chance de sobreviver. Dito e feito. Efetivamente, assim fizeram, enquanto ao longe todos assistiam ansiosos. Ao chegar próximos ao jirau, os dois escalados, o marido e a mulher, se postaram atrás do índio. Este girava rápido, para tê-los sob controle. Mas eles, mais rápidos ainda, se colocavam sempre atrás dele. Quando perceberam que estava já perturbado e mais vagaroso, a um sinal combinado, saltaram juntos, pelos lados, atingindo em cheio as orelhas do índio perverso. A pancada foi tão forte que se ouviu ao longe. Ele caiu aos trambolhões e mergulhou desmaiado na água. Todos os peixes exultaram e, com as barbatanas levantadas, aplaudiam e gritavam de alívio. Acorreram todos ao corpo inerte do índio : os pintados, tucunarés, pacus, piranhas, curimatás, piraras, jaraquis e outros. Começaram a comer com vontade o corpo do Kamayura. Ã medida que comiam, se manchavam com as cores de urucum e de jenipapo com as quais ele havia pintado seu corpo. O tucunaré sujou de urucum o pescoço, o pacu a cabeça e o lado, a piranha a cabeça, o pirarucu a cauda, o jaraqui também a cabeça e a cauda. O pintado só encostou no jenipapo e não no urucum. Todos comeram do índio, mas o pirarucu foi o que mais comeu. Por isso é o mais gordo de todos. Foi assim que os peixes ganharam suas cores a partir do urucum e do jenipapo que estavam no corpo do grande inimigo vencido, o índio Kamayura. |
CURUPIRA Diz a lenda que o curupira vive nas florestas e é o protetor das árvores e dos animais. Segundo a crença popular, ele se parece com um menino, tem os cabelos vermelhos e arrepiados e os pés voltados para trás. Ao perceber caçadores ou devastadores da mata, o curupira prepara armadilhas, deixando como rastro seus pés ao contrário, que enganam os caçadores e faz.com que se percam na selva. O curupira não perdoa àqueles que matam animais indefesos ou as fêmeas prenhas. Para eles, sua punição é sempre severa. |
O BOTO Esta é uma antiga lenda contada nas cidades ribeirinhas da Amazônia. Segundo dizem, nas primeiras horas da noite, surge no rio um Boto... Ele se transforma sob a luz do luar num belo rapaz, perfumado, sedutor e com trajes brancos impecáveis. Este jovem vai aos bailes e encanta as donzelas com seu olhar profundo e apaixonado. Ele é um excelente dançarino. Após horas de dança e olhares sedutores, marca encontro com uma das moças sempre para alta madrugada e bem próximo ao rio. Após seduzir a jovem o misterioso rapaz desaparece nas águas do rio, deixando a moça completamente apaixonada, sem jamais tornar a vê-lo. |
COMO SURGIRAM OS VAGA-LUMES No começo do mundo tudo era escuro, e Deus esculpia em diamantes os astros e planetas e os colocava no firmamento. A poeira luminosa que saía dos planetas esculpidos escorria, formando a Via-Láctea e outras nebulosas. Enquanto Deus continuava seu trabalho, parte da poeira escorreu e caiu na Terra, entre as matas, em forma de chamas. Olhando do alto, Deus viu focos de chamas que voavam entre as matas. Desconfiado que aquilo fosse obra do mal, desceu para ver o que era. Chegando perto, Deus agarrou uma das chamas e perguntou:
A chama chorou e pediu a Deus que não a destruísse. E então explicou que vinha do espaço, que era parte do que sobrara da formação dos planetas. Deus quis libertar as chamas, mas teve medo que queimassem as matas. Por isso, tocou nelas e esfacelou cada uma em milhares de pequenas centelhas. À media que tocava nas chamas, as centelhas se dividiam e se tornavam vivas. Mas, porque haviam ficado por um tempo abafada entre os dedos de Deus, sua luz acendia e apagava. Deus os chamou de vaga-lumes, porque ficaram vagando pelas matas. E hoje, os vaga-lumes enfeitam a noite entre as árvores, como se fossem as estrelas do céu. |
COMO SURGIU O HOMEM O Deus Enôrê apareceu sobre uma ponte depedra, olhou o mundo e viu que faltava alguma coisa nele. Enôrê cortou um pedaço de madeira e esculpiu nele uma figura humana O Deus Enôrê gostou da figura e a transformou em um homem. Mesmo assim, ele achou que faltava alguma coisa no mundo. Então pegou outro pedaço de madeira e esculpiu nele outra figura humana, de longos cabelos e forma bonita. Com outro toque Enôrê transformou a escultura em uma mulher. O homem passou a viver com a mulher e foram muito felizes. Logo o casal teve filhos. Nasceram o menino Zalúiê a menina Hôhôlaialô. Depois, nasceram Kamáikôrê e Uháiuarirú. Um dia, Enôrô chamou Zalúiê e Kamáicore e disse que ia dividir os bens da Terra. Ele perguntou o que eles queriam. Zalúiê não quis cavalo ,nem boi. Pediu o arco, a flecha e as coisas da tribo. Kamáikôrê pediu os outros dons de Enôrê: a bondade, a alegria, a determinação. E foi muito feliz. Seus filhos prosperam, e sua família cresceu muito. E os filhos foram tantos, tantos e tantos, que logo o mundo estava cheio de homens, mulheres e sua crianças. |
COMO SURGIU A FRUTA No começo do mundo, os homens comiam as mesmas coisas que os animais: capim, grama e folhas verdes. As vezes, um cheirinho doce se espalhava pelo ar, dando água na boca. Os homens, sem saber o que era ficavam procurando descobrir de onde vinha. Um dia, um índio estava cuidando de sua roça quando encontrou um coelho comendo suas hortaliças. Agarrou o bichinho e logo sentiu nele o cheiro doce do alimento desconhecido. - Me mostra onde existe o alimento com este cheiro gostoso e eu te deixo comer sempre na minha roça - disse o índio ao coelho. O coelho levou o índio até uma grande árvore na beira do rio. Ela estava cheia de um fruto bonito, que exalava um cheiro doce e gostoso. Sem pensar no que faziam, vários índios decidiram derrubar a árvore para comer os frutos. O barulho dos machados acordou Uansquém, o espírito da árvore. Uansquém gritou com os índios: - Seus tolos! A árvore ainda não está pronta! Por que estão comendo os frutos antes do tempo? Mas era tarde. Os homens e animais já comiam as frutas, mesmo verdes. Uansquém, que estava preparando a árvore para dar ao homem quando os frutos ficassem maduros, ficou furioso. - A partir de hoje, se quiserem frutos, vocês mesmos terão de plantar - disse o espírito da árvore para os índios. E Uansquém, que era bondoso, ensinou a guardar os caroços e a usá-los como sementes. Assim, os índios passaram a plantar os caroços e tiveram muitas árvores com frutos diferentes. E o fruto passou a fazer parte da alimentação das tribos. |
COMO SURGIU MUNDO Logo que Deus criou o mundo, era uma escuridão só. E ali viviam Caru e seu filho Rairu. Um dia, Rairu tropeçou em uma pedra em formato de panela e dai em diante começou a carregá-la na cabeça, por ordem do pai. A pedra começou a crescer, crescer, até ficar tão grande, que Rairu não podia mais agüentar o seu peso. Tanto cresceu a pedra que acabou se transformando no céu, desgrudou da cabeça de Rairu e nele, em seguida, apareceu o sol. Um dia, Caru convidou Rairu para caçar. No mato, viram um tatu que estava cavando, e Rairu agarrou seu rabo. O tatu começou a puxar Rairu e puxou tão forte, que Rairu se foi buraco a dentro. Muito tempo se passou. Um dia, Caru voltou ao lugar e viu Rairu sair de dentro do buraco. Junto com Rairu, saíram do buraco muitas pessoas. Caru começou a pinta-las com cores diferentes, para que formassem raças diferentes. Enquanto pintava as pessoas, muitas dormiram. Caru chamou-as de preguiçosas e transformou-as em animais de todos os tipos. Quem não dormiu, permaneceu humano. Assim estava criado o mundo, com céu e terra, pessoas e animais. Caru achou que já tinha feito o que era preciso e, por isso entrou no buraco e desapareceu, não voltou nunca mais. |
COMO SURGIU O FOGO A única fonte de calor no inicio do mundo era o sol. Os homens não podiam se defender do frio, e os alimentos eram comidos crus. Só MINARÃ, um índio de raça estranha, conhecia os segredos do fogo e os guardava só para si. A cabana de MINARÃ, onde o fogo era guardado sempre aceso, era vigiada por sua filha LARAVI. Para descobrir o segredo do fogo, um caingangue, chamado FIIETÓ, se transformou em gralha branca e voou até a cabana de LARAVI. Como LARAVI estava tomando banho nas águas do rio, a gralha caiu na água e se deixou levar pela correnteza. A jovem índia pegou a gralha e a levou para dentro da cabana, colocando-a ao lado do fogo para que secasse as penas. Quando estava com as penas secas, a gralha roubou um carvão em brasa e fugiu. MINARÃ perseguiu FIIETÓ, mas não conseguiu pegá-lo porque ele se escondera numa caverna. Quando saiu do esconderijo, FIIETÓ, ainda feito gralha, voou até um pinheiro e incendiou um ramo de sapé com a brasa. Depois, voltou voando para sua aldeia, levando o ramo no bico. Com o vento, o fogo se espalhou pelo campo e durante muitos dias a mata ardeu em chamas. Vendo o incêndio, índios de todas as tribos foram buscar brasas e ramos incendiados e levaram para suas casas, passando a usar o fogo. |
O APARECIMENTO DA NOITE O Bacurau falou para a onça abrir a boca, para ele ver o dente da onça. Ela abriu, ele cagou na sua boca, e ela vomitou e quase morreu. Ele voou e foi embora; aí a amiga da onça apareceu e falou: - "O que foi?". A onça contou. Sua amiga foi na maloca e queimou todas as espécies de milho, enquanto a onça continuava vomitando. Quando se encostou ao milho preto para queimar, a noite apareceu. A onça ficou sem saber o que fazer; esperou aparecer o dia; tentou acender o fogo mas não pegava. A noite durou uns três dias, a partir daí surgiu um dia e uma noite sempre atrás da outra. A onça, que de tanto vomitar tinha morrido, voltou a viver de novo |
A LENDA DA CESTARIA Há muitos e muitos anos, na profundeza do Rio Paru de Leste, afluente do Amazonas, e mais precisamente na divisa com o rio Axiki, vivia a serpente Tuluperê, conhecida popularmente como a cobra-grande. Ela tinha um comprimento fora do comum. A pele, desde a cabeça até o final do corpo, apresentava as cores vermelha e preta. E reunia características da sucuriju e da jibóia. Tuluperê virava embarcações que navegavam nas águas dessa divisa e, quando conseguia pegar uma pessoa, apertava-a até matar e dela se alimentava. Um dia, os índios da nação Wayana, com a ajuda do Xamã, líder religioso, conseguiram matar Tuluperê, depois que a atingiram com muitas flechas. Nessa ocasião, viram os desenhos da pele da cobra-grande, memorizando-os. A partir daí, passaram a reproduzí-los em todas as suas peças de cestaria. |
A LENDA DA MANDIOCA
Esta raiz possui um forte veneno, cianide que precisa ser eliminado durante a preparação da farinha. Isto é feito durante o cozimento ou fermentação da raiz. A massa obtida é tostada e está pronta para armazenagem. Em épocas remotas, a filha de um poderoso tuxaua foi expulsa de sua tribo e foi viver em uma velha cabana distante por ter engravidado misteriosamente. Parentes longíquos iam levar-lhe comida para seu sustento, e assim a índia viveu até dar a luz a uma linda menina, muito branca, o qual chamou de Mani. A notícia do nascimento se espalhou por todas as aldeias e fez o grande chefe tuxaua esquecer as dores e rancores e cruzar os rios para ver sua filha. O novo avô se rendeu aos encantos da linda criança a qual se tornou muito amada por todos. No entanto, ao completar três anos, Mani morreu de forma também misteriosa, sem nunca ter adoecido. A mãe ficou desolada e enterrou a filha perto da cabana onde vivia e sobre ela derramou seu pranto por horas. Mesmo com os olhos cansados e cheios de lágrimas ela viu brotar de lá uma planta que cresceu rápida e fresca. Todos vieram ver a planta miraculosa que mostrava raízes grossas e brancas em forma de chifre, e todos queriam prová-la em honra daquela criança que tanto amavam. Desde então a mandioca passou a ser um excelente alimento para os índios e se tornou um importante alimento em toda a região. Mandi = Mani, nome da criança. oca = aca, semelhante a um chifre. |
A LENDA DO BOTO
Existem dois tipos de botos na Amazônia, o rosado e o preto, sendo cada um de diferente espécie com diferentes hábitos e envolvidos em diferentes tradições. Viajando ao longo dos rios é comum ver um boto mergulhando ou ondulando as águas a distância. Se diz que o boto preto ou tucuxi é amigável e ajuda a salvar as pessoas de afogamentos, mas dizem que o rosado é perigoso. Sendo de visão ineficiente, os botos possuem um sofisticado sistema sonar que os ajuda a navegar nas águas barrentas do Rio Amazonas. Depois do homem eles são os maiores predadores de peixes. A lenda do boto é mais uma crença que o povo costumava lembrar ou dizer como piada quando uma moça encontrava um novo namorado nas festas de junho. É tradição junina do povo da Amazônia festejar os Dias de Santo Antônio, São João e São Pedro. Nestas noites se fazem fogueiras e se queima foguetes enquanto se desfruta de comidas típicas e se dança quadrilhas e outras danças ao som alegre das sanfonas. As lendas contam que nestas noites, quando as pessoas estão distraídas celebrando, o boto rosado aparece transformado em um bonito e elegante rapaz, mas sempre usando um chapéu, porque sua transformação não é completa, pois suas narinas se encontram no topo de sua cabeça fazendo um buraco. Como um cavalheiro, ele conquista e encanta a primeira jovem bonita que ele encontra e a leva para o fundo do rio, engravidando-a e nunca mais voltando para vê-la. Durante estas festividades, quando um homem aparece usando um chapéu, as pessoas pedem para que ele o retire para que não pensem que ele é um boto. E quando uma jovem engravida e não se sabe quem é o pai, é comum dizerem ser "do boto". |
LENDA DO GUARANÁ O guaraná é um fruto da Amazônia usado para fazer uma soda ou refrigerante de sabor doce e agradável. É uma bebida bastante popular na Amazônia. A origem deste fruto é explicada na seguinte lenda: Um casal de índios pertencente à tribo Maués viviam juntos por muitos anos sem ter filhos, mas desejavam muito ter uma criança ao menos. Um dia, eles pediram a Tupã uma criança para completar aquela felicidade. Tupã, o rei dos deuses, sabendo que o casal era cheio de bondade, lhes atendeu o desejo trazendo a eles um lindo menino. O tempo passou rapidamente e o menino cresceu bonito, generoso e bom. No entanto, Jurupari, o deus da escuridão, sentia uma extrema inveja do menino e da paz e felicidade que ele transmitia, e decidiu então ceifar aquela vida em flor. Um dia o menino foi coletar frutos na floresta e Jurupari se aproveitou da ocasião para lançar sua vingança. Ele se transformou em uma serpente venenosa e mordeu o menino, matando-o instantaneamente. A triste notícia se espalhou rapidamente. Neste momento, trovões ecoaram na floresta e fortes relâmpagos caíram pela aldeia. A mãe, que chorava em desespero, entendeu que os trovões eram uma mensagem de Tupã, dizendo que ela deveria plantar os olhos da criança e que deles uma nova planta cresceria dando saborosos frutos. Os índios obedeceram ao pedido da mãe e plantaram os olhos do menino. Neste lugar cresceu o guaraná, cujas sementes são negras, cada uma com um arilo em seu redor, imitando os olhos humanos. |
A LENDA DA VITÓRIA RÉGIA
A maior flor aquática no mundo é a Vitória Régia, nativa da bacia do Rio Amazonas. Suas folhas arredondadas atingem até 2 m de diâmetro e possuem as bordas pronunciadas e levantadas. A vitória régia flutua graciosamente na água e pode sustentar o peso correspondente ao tamanho de um pequeno animal. Quando floresce, suas pétalas são brancas ou levemente rosadas, com bordas esverdeadas. Há muitos anos, nas margens do majestoso Rio Amazonas, Naia, uma jovem e bela índia ficava a admirar e contemplar por longas horas a beleza da lua branca e o mistério das estrelas. Enquanto o aroma da noite tropical enfeitava aqueles sonhos, a lua deitava uma luz intensa nas águas, fazendo Naia subir numa árvore alta para tentar tocar a lua. Ela não obteve êxito. No próximo dia, ela decidiu subir as montanhas distantes para sentir com suas mãos a maciez aveludada do rosto da lua, mas novamente ela falhou. Quando chegou lá, a lua estava tão alta que retornou à aldeia desapontada. Ela acreditava que a Lua era um bonito guerreiro - Jaci, e sonhava em ser a noiva desse bravo guerreiro. Na noite seguinte, Naia deixou a aldeia esperando realizar seu sonho. Ela tomou o caminho do rio para encontrar a lua nas negras águas. Refletida no espelho das águas, lá estava a lua, imensa, resplandecente. Naia, em sua inocência, pensou que a lua tinha vindo se banhar no rio e permitir que fosse tocada. Ela mergulhou nas profundezas das águas desaparecendo para sempre. A lua, sentindo pena daquela tão jovem vida agora perdida, transformou Naia em uma flor gigante - a Vitória Régia - com um inebriante perfume e pétalas que se abrem nas águas para receber em toda sua superfície, a luz da lua. |
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