EDUCAÇÃO POPULAR - Protagonismo e diversidade são as tendências

Protagonismo e diversidade. Esses são os rumos atuais da educação popular no Brasil. Não basta apenas dar a ferramenta de leitura ao indivíduo, pregam os educadores: é necessário que ele a use de forma crítica. E não apenas na área de alfabetização, mas também em direitos humanos, desenvolvimento sustentável, sexualidade e na questão rural, para citar alguns exemplos.

O próprio conceito de educação popular hoje em dia está mudando. Não é necessariamente informal, fora do complexo educacional das escolas. "Hoje ela está em todas as esferas do conhecimento, em qualquer nível do ensino", analisa Moacir Gadotti, do Instituto Paulo Freire. "Você pode aplicar os conceitos da educação popular em qualquer lugar".

O indivíduo como autor de sua inclusão, ou seja, o protagonismo social é a atual meta da educação popular. Por essa concepção, o próprio excluído deve estar apto a buscar aquilo que lhe é de direito. Cabe ao educador popular despertar esse sentimento em sua comunidade. "Um educador popular é capaz de dar olhares à realidade brasileira", avalia a professora Maria Stela Graciani, coordenadora do Núcleo de Trabalhos Comunitários (NTC) da PUC-SP, que já formou mais de 10 mil educadores sociais e dá suporte técnico e acadêmico para projetos na área em todo o país.

Segundo Stela, a educação popular tem como principal objetivo tornar o indivíduo conhecedor dos seus direitos e deveres por meio do resgate de sua cidadania. Para isso, o NTC promove cursos de capacitação, que tentam despertar nos futuros educadores "a sensibilidade política, com um caráter mobilizador, articulador e partícipe da grande transformação." Pretende-se como grande transformação converter projetos e intervenções sociais em políticas públicas. "O Estado não conseguia resolver todos os problemas", avalia a coordenadora. "Hoje a sociedade civil é sua parceria ativa."

Diversidade

Essa busca pelo resgate da cidadania e a necessidade de inclusão permitiu, então, que a educação popular cruzasse a fronteira da escolarização e formasse um emaranhado de segmentos. Se no início o apoio fundamental girava em torno dos movimentos populares, com o decorrer do tempo passou-se a apoiar determinados movimentos sociais mais amplos: dos direitos humanos, pela paz, em defesa do meio ambiente, de gênero.

"Da ênfase nas classes houve uma extensão para os indígenas, os negros, as mulheres, os subempregados", explica o professor Luiz Eduardo Wanderley, também da PUC-SP. "Mas isso não bastava, era preciso ampliar o leque para os aliados: intelectuais, técnicos, setores de classe média, setores governamentais, clérigos, religiosas." Hoje a educação popular engloba desde o educador formal, preocupado com a democratização do ensino, até o educador popular, que trabalha na mata com desenvolvimento sustentável. "É um organismo vivo", compara Maria Clara Pierrô.

Com a ampliação de públicos, principalmente a partir da década de 90, a educação popular ganhou o pluralismo, item que mais atrai os estrangeiros. A própria diversidade brasileira contribuiu para isso, segundo Maria Margarida Machado, da Secad/MEC. "O continentalismo do Brasil, que proporciona diferentes culturas, nos dá a credibilidade para sermos procurados por diferentes países", afirma. "Temos um passado que permite um diálogo com a África, Portugal, Espanha, Holanda, Inglaterra. É uma questão de identidade."

O educador inglês Dan Baron, com a autoridade de quem escolheu o Brasil para atuar, concorda: "O Brasil já é um ator principal num palco mundial. Se conseguisse cultivar sua auto-estima, poderia ter uma repercussão decisiva nos povos do mundo inteiro."

Lígia Ligabue, da Agência Repórter Social, para a revista Educação