DA POSSIBILIDADE DA
EDUCAÇÃO: A EDUCAÇÃO MORAL EM KANT
Parte I: Autonomia, Disciplina e Liberdade
As notas escritas por Kant acerca da educação não constituem um desvio meramente acidental de uma actividade filosófica perpassada por questões metafísicas. São uma parte integrante e fecunda do seu pensar, tão essencial, como qualquer outra.
A metafísica intervém directamente no projecto pedagógico kantiano, não tanto para nos conduzir à elaboração de abstracções, mas para nos enviar para a essência da realidade educacional, dada na sua concretude. Para o autor da «Crítica da Razão Prática» e «Das Reflexões sobre a Educação», o pensamento e a experiência esclarecem-se e guiam-se mutuamente. Um lema indiscutível que perpassa o pensar do filósofo, em qualquer dos domínios a que este se aplique.
A pedagogia fornece ao filósofo quadros de pensamento específicos já anunciados em outras obras que, só em aparência, ultrapassam o domínio estritamente educacional. Existe uma disciplina da “Razão Pura”, que é entendida num sentido eminentemente pedagógico – tal como nos é anunciado na parte final da «Crítica da Razão Pura», sendo a “Metodologia da Razão Prática”, que conclui a «Crítica da Razão Prática» – não mais do que a ideia de uma pedagogia moral. Encontramos, também, na «Crítica da Faculdade de Julgar», reflexões essenciais sobre as noções pedagógicas de “disciplina” e de “cultura”.
Kant mostra-se profundamente interessado pelos problemas pedagógicos. Defende os conceitos de “bom senso” e de “equilíbrio” – que propõe como fundamento de todo o processo de ensino-aprendizagem – tão adversos aos programas educacionais da época, onde a escola se manifestava como o meio...(continua)