YNARI, A MENINA DAS CINCO
TRANÇAS
Era uma vez
uma menina que tinha
cinco tranças lindas e se chamava Ynari. Ela gostava muito de
passear perto de
sua aldeia, ver o campo, ouvir os passarinhos e sentar-se junto
à margem do
rio.
Certa tarde, já o Sol se punha, Ynari ouviu um barulho. Não eram os peixes a saltar na água, não era o cágado que às vezes lhe fazia companhia, nem era um passarinho verde. Do capim alto saiu um homem muito pequenino com um sorriso muito grande. E embora ele não fosse do tamanho dos homens da aldeia de Ynari, ela não se assustou. O homem muito pequenino andava devagarinho e devagarinho se aproximou. (...) Estavam assim os dois conversando sobre as palavras, a importância que as palavras tinham na vida de cada um, como as usavam, quando as usavam, com quem as usavam, e que significados tinham para o coração de cada um deles. Ynari tentou explicar-lhe que havia palavras que para ela tinha mais do que um significado ou que lhe provocavam mais do que uma só alegria ou uma só tristeza...
Amâncio,
Íris África para
crianças: histórias e culturas africanas na
educação infantil/ Belo Horizonte:
Nandyala, 2007 (Coleção Afrocult, Vol 1).
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A
Lenda do Tambor Africano
Corre
entre os Bijagós, da Guiné, a lenda de que foi o
Macaquinho de nariz
branco quem fez a primeira viagem à Lua. A história
começou assim:
Nas proximidades de uma aldeia, os macaquinhos de nariz branco, certo dia, de que se haviam de lembrar? De fazer uma viagem à Lua e trazê-la para baixo, para a Terra.
Ora
numa bela manhã, depois de terem em vão tentado encontrar
um caminho
por onde subir, um deles, por sinal o mais pequeno, teve uma ideia:
encavalitarem-se uns nos outros. Um agora, outro depois, a fila foi-se
erguendo ao céu e um deles acabou por tocar na Lua.Embaixo,
porém, os
macacos começaram a cansar-se e a impacientar- se. O companheiro
que
tocou na Lua nunca mais conseguia entrar. As forças
faltaram-lhes,
ouviu-se um grito, e a coluna desmoronou-se.Um a um, todos foram
arrastados na queda e caíram no chão. Apenas um
só, só um macaquito,
por sinal o mais pequeno, ficou agarrado à Lua, que o segurou
pela mão
e o ajudou a subir.
A Lua olhou-o com espanto e tão engraçadinho o achou que lhe deu de presente um tamborinho.O Macaquinho começou a aprender a tocar no seu tamborinho e por longos dias deixou-se ficar por ali. Mas tanto andou, tanto passeou, tanto no tamborinho tocou, que os dias se passaram uns atrás dos outros e o macaquinho de nariz branco começou a sentir profundas saudades da Terra e das suas gentes. Então, foi pedir à Lua que o deixasse voltar. —
Para que queres voltar?— Tenho saudades da minha terra, das palmeiras,
das mangueiras, das acácias, dos coqueiros, das bananeiras.
A
Lua mandou-o sentar no tamborinho, amarrou-o com uma corda e disse-lhe:
—
Macaquinho de nariz branco, vou-te fazer descer, mas toma tento no que
te digo. Não toques o tamborinho antes de chegares lá
abaixo. E quando
puseres os pés na Terra, tocarás então com
força para eu ouvir e cortar
a corda. E assim ficarás liberto.
O
Macaquinho, muito feliz da vida, foi descendo sentado no tambor. Mas a
meio da viagem, oh!, não resistiu à
tentação. E vai de leve, levezinho,
de modo que a Lua não pudesse ouvir, pôs-se a tocar o
tambor
tamborinho. Porém, o vento soltando brandos rumores fazia
estremecer
levemente a corda. Ouviu a Lua os sons compassados do tantã(1) e
pensou:
'O
Macaquinho chegou à Terra'. E logo mandou cortar a corda.E eis o
macaquinho atirado ao espaço, caindo desamparado na ilha natal.
Ia pelo
caminho diante uma rapariga cantando e meneando- -se ao ritmo de uma
canção. De repente viu, com espanto, o infeliz estendido
no chão. Mas
tinha os olhos muito abertos, despertos, duas brasas produzindo luz. O
tamborinho estava junto dele. E ainda pôde dizer à
rapariga que aquilo
era um tambor e o entregava aos homens do seu país.
A
moça, ainda não refeita da surpresa, correu o mais
velozmente que pôde
a contar aos homens da sua raça o que acabava de acontecer.Veio
gente e
mais gente. Espalhavam-se archotes. Ouviam-se canções. E
naquele
recanto da terra africana fazia-se o primeiro batuque(2) ao som do
maravilhoso tambor.Então os homens construíram muitos
tambores e,
dentro em pouco, não havia terra africana onde não
houvesse esse
querido instrumento.Com ele transmitiam notícias a longas
distâncias e
com ele festejavam os grandes dias da sua vida e a sua raça.
O
tambor tamborinho ficou tão querido e tão estremecido do
povo africano
que, em dias de tristeza ou em dias de alegria, é ele quem
melhor
exprime a grandeza da sua alma."
FERREIRA,
Manuel (escritor
de Guiné-Bissau). No Tempo em que os Animais Falavam,
Colecção Novas Leituras Africanas de Língua
Portuguesa – Vol. 5, Editorial do Ministério da
Educação.
(1) tantã – tambor
(2) batuque – dança especial acompanhada por instrumentos em que se bate. |
ÁFRICA – EM ALGUM LUGAR COMO
SURGIU A
GALINHA D”ANGOLA
Antigamente as aves viviam felizes nos campos e florestas africanas, até que a inveja se instalou entre elas tornando insuportável a convivência. Nessa ocasião, quase todos os pássaros passaram a invejar a família do Melro, que era muito bonito. O macho, com sua plumagem negra e seu bico amarelo –alaranjado, despertava em todos a vontade de ser igual a ele. As fêmeas tinha o dorso preto, o peito pardo-escuro, malhado de pardo-claro, e a garganta com manchas esbranquiçadas. Elas causavam inveja maior ainda. O Melro, vaidoso, certo de sua beleza, prometeu que se todas as aves o obedecessem usaria seus poderes mágicos e os tornaria negros com plumagem brilhante. Entretanto, os pássaros logo começaram a desobedecê-lo. Então ele, furioso, jurou vingança, rogou-lhes uma praga e deu-lhes cores e aspectos diferentes. Para a Galinha D”Angola, disse que seria magra e sentiria fraqueza constante. Fez com que seu corpo se tornasse pintado assim como o de um leopardo. Dessa forma, seria devorada por aqueles felinos, que não suportariam ver outro animal que tivesse o corpo tão belo, pintado de uma maneira semelhante ao deles. Ela pagaria assim por sua inveja. E foi isso que aconteceu. Desde esse dia a Galinha D”Angola, embora seja muito esperta e voe para fugir dos caçadores, vive reclamando que está fraca, fraca. Com suas perninhas magras, foge com seu bando assim que surge algum perigo e é muito difícil alcançá-la. Suas penas, cinzas, brancas ou azuladas, são sempre manchadinhas de escuro tornando as galinhas d”angola belas e cobiçadas.
Referências. PRADO, Zuleika de Almeida. Muitos mitos,
lindas lendas.
Editora Callis, 2007. São Paulo. 1ª. Edição.
Ilustrações de Iontr Zilberman. P.
9. Galinha-D”Angola
É o mesmo que to-fraco, conquém, sacué ou guiné. Par os yorubás, é etu, animal sagrado. Contam que, por recomendação de Orumilá, a grande adivinho, a conquém precisou fazer um ebô para que nada faltasse na Terra a seus pares, as outras aves do mato. Entre outras coisas, etu deveria ser generosa com todos os seres. Foi quando encontrou Oxalá, a quem tratou com reverência e ofereceu tudo o que tinha. Admirado com a fineza de etu, Oxalá pintou o seu corpo com efun, o pó branco mágico. Eis porque etu, que dentre os animais tem a maior semelhança com Oxalá, faz parte das cerimônias e oferendas para os deuses orixás. Referências: CUNHA, Carolina. ABC AFRO-BRASILEIRO. 1 ED. 2009. Edições SM. São Paulo p. 16 |