UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UFRGS. DEPARTAMENTO
DE ARTE DRAMÁTICA – DAD Curso de Pós- Graduação em Teoria do Teatro Contemporâneo- II SemestreDisciplina: Dramaturgia Contemporânea Professor: Flávio MainieriAluna:
Neusa Maria da Rocha Ribeiro |
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Introdução “Diante
dos textos de Müller, o pensar tradicional eqüivale à
cegueira.”(Fernando Peixoto) O Texto dramatúrgico de Heiner Müller evoca uma tessitura de imagens, emoções e informações que nem sempre nos coloca a salvo-conduto em nosso distanciamento de leitor- platéia. Muitas vezes somos co-autores da obra, pois a partir da nossa vivência pessoal vamos preenchendo as lacunas do texto. Em geral, caminhamos para o espaço construído pela intertextualidade de tudo o que não é dito pelo autor da obra, segundo, o crítico francês Ryngaert, a encenação moderna tem cada vez mais assumido o que pertence à ordem do agir fazendo com que a personagem execute vários tarefas na representação mesmo que estas não tenham ligação direta com o que é dito.(pág.10) Tomemos como exemplo A Estrada de Wolokolamsk que tem o seu chamado próprio e similar em sua visão universal. É um texto dramatúrgico tipicamente contemporâneo que mais se assemelha a um poema dramático que é construído sem pontuação e apresenta o drama humano de um batalhão de soldados numa estrada isolada entre Berlim e Moscou. São homens que vivem do outro lado do Atlântico, em pleno inverno europeu, que se submetem e cumprem uma ordem superior... o batalhão formou como um quadrado aberto e nenhum rosto era como o outro mas ao meu comando soaram os fuzis com o som de um só fuzil... São soldados como qualquer outro soldado em toda as partes do mundo. São todos iguais em sua humanidade crua. O indivíduo é pulverizado num limbo de inconsciência, não há mais identidade pessoal apenas o retrato de uma sociedade marcada pela guerra, fome e morte. E o todo é uma só ordem, uma só pessoa que formam um todo e este todo se transforma coletivamente, através da revolução social - comunista. Sem dúvida, Müller provoca uma leitura criativa escrevendo em forma de diálogos ou não, o que importa é a recepção criativa e interativa da Fábula. O Autor O dramaturgo Heiner Müller nasceu em 09 de Janeiro de 1929, em Eppendorf, na Saxônia e seu falecimento ocorreu em 1996, parafraseando Fernando Pessoa, entre uma e outra data, todos os dias foram dele. Aos 16 anos participou de uma revolta popular. Posteriormente foi bibliotecário, jornalista e secretário da União dos Escritores da RDA. Também foi colaborador e dramaturgo no Teatro de Máximo Górki, no Berliner Ensemble, Volkbühner da RDA. Em 1959, junto com a sua esposa, recebeu o prêmio Henrich Mann e em 1975 recebeu o prêmio Lessing. Heiner Müller se inicia no teatro realizando adaptações de textos teatrais conhecidos, como: 10 dias que abalaram o mundo, de Jonh Reed; Dom Juan, de Moliére; Como Gostais, de Shakespeare; A Gaivota, de Tchécov; e o fragmento Fatzer, de Brecht. O seu escritor favorito sempre foi Shakespeare.
Alguns
exemplos da obra de Heiner Müller são: Medeamaterial e
outros
textos, História de Amor, Filoctetes, Heracles 2 ou a Hidra, A
libertação de Prometeu, Sísifo e Hamlet-
Máquina. Obra
O tempo é o buraco da criação, a humanidade inteira cabe nele”.(H. M.) Através dos pensadores, políticos e artistas que influenciaram a sua obra como Artaud, Jean Genet, Kafka e Max ele mergulha no campo da Ética buscando o indivíduo que está inserido no contraditório processo social transformador. É recorrente na obra de Heiner Müller a discussão sobre a construção do socialismo e o valor da Revolução. Também, há uma conjugação de passado, presente e futuro, sendo destruída a noção de tempo e espaço. Este artifício rompe o discurso linear, porém não perde o fio de múltipla condução da narrativa. Em Quarteto, Müller, dialoga com o autor Chordelos de Laclos, a partir da temática de Relações Perigosas. O dramaturgo afirma que a peça Quartet é uma verdadeira Comédia, um jogo sexual que mergulha de forma cínica na luta de classes, apresentando dois personagens ambíguos e intrigantes da Aristocracia Francesa: Merteuil e Valmont. A ação dramática oscila entre um salão durante a época da Revolução Francesa e um Bunker após a 3ª Guerra Mundial. Em sua força como dramaturgo, Müller incorpora principalmente as influências de Brecht e Artaud criando a sua própria dramaturgia. De acordo com Fernando Peixoto a obra de Brecht é a Tese, a obra de Antonin Artaud a Antítese e a obra de Heiner Müller é a nova Síntese, no século XX.Características
básicas da obra de Heiner Müller(1):
(1) Esquema baseado em análise de Fernando Peixoto. Conclusão “O que eu receio é a noite dos corpos ... Vegeta alguma coisa entre o homem e a besta, Que espero não rever nesta vida ou em Vida, Se é que existe outra vida.” (Marquesa Merteuil, pág. 63. Quartet)
A dramaturgia confeccionada pelo alemão Heiner Müller possui uma força desconsertante que redemoinha através da tela mental e nos atinge com pontaria certeira. A obra trás em si a força desse contemporâneo que nos possibilita criar novos parâmetros através dos quais dialogamos com a história e as heranças da humanidade. A linha divisória entre o autor, o público e o palco se dilui e o fazer teatral é sentido como pertencente a uma dimensão de múltiplas possibilidades, pois as indicações para representação são mínimas ou inexistentes. O que desafia a imaginação e coloca em xeque o status quo de uma narrativa tradicional, bem como confunde o pensamento linear de caráter puramente científico. Em Müller, o Drama Contemporâneo não perde o fio narrativo, humano e universal próprio da obra de arte. O drama, formal ou não, vai abrindo espaço para uma leitura particular sendo que a tessitura de sua narrativa possui uma dinâmica íntima que nos conduz para uma determinada respiração, depois o silêncio. Uma pausa e uma outra respiração. E novamente o silêncio. Um ritmo próprio e único, dramático e prazeroso grita em Hainer Müller. Assim termino esta breve reunião de informações e reflexões sobre Hainer Müller citando o texto de Valmont para Merteuil, que diz: “ O tempo é o buraco da criação, a humanidade inteira cabe nele. Para a plebe a Igreja encheu este buraco com deus. Sabemos que é preto e sem fundo. Quando a plebe souber disso, também nos enfiará no buraco.” (pág. 62) Bibliografia
CARLSON, Marvin. Teorias
do
Teatro: Estudo histórico- crítico, dos gregos à
atualidade.
São Paulo: UNESPE, 1997. |