O QUE É FILOSOFIA À
primeira vista, entendemos a filosofia como algo enigmático,
profundamente abstrato e distante da realidade. Essa visão da
filosofia decorre dos complexos trabalhos de pensadores que, ao longo
da história, refletiram e buscaram diferentes respostas sobre
questões que continuamente fazemos ao longo de nossa
existência. Indagações sobre o conhecimento, sobre
os valores, sobre a natureza, sobre a beleza, sobre o homem. Essas
inquietações decorrem da necessidade que todo ser humano
tem de compreender o significado do mundo e de si mesmo. Na busca dessa
compreensão criamos novos significados, questionando e tecendo
uma teia de relações cada vez mais abrangentes que nos
indiquem respostas, mesmo que provisórias. Desta
forma, o primeiro passo para a filosofia é a
inquietação que conduz ao questionamento. O objeto da
filosofia é a reflexão, o movimento do pensamento que nos
permite recuar, nos distanciarmos dos fatos aparentemente banais para
buscarmos seus fundamentos. Se
é verdade que continuamente refletimos, nem sempre refletimos
com radicalidade, ultrapassando as fronteiras da superficialidade para
buscarmos as raízes de nossa forma de pensar e agir no mundo. A
reflexão radical requer um caminho que nos garanta esse
aprofundamento, ela deve ser organizada, ciente dos princípios e
dos objetivos que almeja. Radicalidade, sistematização e
abrangência são as marcas da Filosofia que nasce da
experiência humana, da tentativa do ser humano de compreender a
si mesmo e tudo que o cerca, valendo-se da autonomia da razão
para criar e recriar conscientemente o mundo em que vivemos. A
complexidade da filosofia está na enigmática e
surpreendente aventura de idéias que nos identifica e nos
diferencia de outros seres. Portanto, a filosofia está presente
na ciência, na arte, no mito, na religião, no cotidiano.
Embora possamos afirmar que a filosofia esteja presente nas diversas
manifestações do humano, ela não se confunde com
nenhuma dessas formas de conhecimentos específicos, mas as
fundamenta. Essa busca de fundamentos faz da história da
filosofia uma história sem fim, porque diz respeito a todos em
todas as épocas. Por isso, nunca é cedo ou tarde demais
para iniciarmos essa aventura do filosofar. O QUE É FILOSOFIA PARA
CRIANÇAS O
contexto do mundo atual impõe um grande desafio aos educadores:
a formação de pessoas com as habilidades
necessárias para transformar informação em
conhecimento e conhecimento em ações conseqüentes. A
velocidade com que são produzidas e repassadas as
informações exigem uma forma mais elaborada de
apreensão, possibilitando, assim, relacioná-las e delas
extrair tudo aquilo que está implícito. Além
disso, os indivíduos desta sociedade em rápida
transformação terão êxito e serão
atuantes na medida em que conseguirem interagir autonomamente com o
meio em que vivem. Neste
sentido, uma vez mais, a Educação tem papel de destaque
na formação deste novo indivíduo. A simples
transmissão de informações produzidas ao longo da
história já não basta. Cabe à
Educação, agora, dar os instrumentos necessários
para que, a partir do que já foi construído, as pessoas
possam elaborar novos conhecimentos, desenvolver seu potencial
criativo, enfrentar novos desafios, relacionar as
informações e tirar suas próprias
conclusões. Diante
desse panorama, o Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças
salienta a necessidade de se aprender a pensar melhor e a pensar por si
mesmo. Quando a Filosofia é ensinada através do
diálogo investigativo, como é proposto no Programa de
Filosofia para Crianças e, especialmente, quando os estudantes
ainda são crianças, a tendência é que eles
saiam de seus cursos mais críticos, mais criativos e mais
sensíveis ao contexto em que vivem. A
experiência tem nos mostrado que crianças e adolescentes
que estão expostos à esse Programa desenvolvem: maior
autonomia de pensamento, uma percepção ética mais
aguçada, autocorreção, respeito por pensamentos
diferentes do seu, respeito à opinião de outras pessoas,
capacidade de dar boas razões para seus argumentos, entre outras
habilidades. Principais
objetivos O
Programa Filosofia para Crianças - Educação para o
Pensar é um programa educacional que visa três objetivos
intercomplementares:
Iniciação
Filosófica: Crianças,
jovens e adultos colocam, para si próprios, questões que
demandam não só um esforço explicativo a respeito
de aspectos relevantes da realidade, mas, também, um
esforço de constituição de sentidos desta
realidade e de si mesmos nela. Os
sentidos, constituídos historicamente pelos seres humanos,
alimentam suas vidas e os vão constituindo como pessoas. Essas
referências significativas são uma necessidade: as pessoas
podem participar do esforço da sua constituição ou
podem receber prontos os sentidos produzidos por alguns poucos que
acabam se tornando os donos das referências!... Filosofia
para Crianças pretende iniciar crianças e jovens na luta
pela constituição autônoma e co-participada dos
sentidos. O objetivo é auxiliá-los a se tornarem
cidadãos que sejam capazes de oferecer
contribuição pessoal enriquecedora na
construção continuada das necessárias
referências orientadoras das vidas humanas. Pensar,
reflexiva e criticamente sobre as questões que dizem respeito
à constituição dos sentidos, é estar
iniciando-se no próprio processo do filosofar, antes mesmo de
ter acesso à produção daqueles que são
reconhecidos, pela qualidade de suas reflexões, como os grandes
filósofos. Educação para o Pensar: O
pensar é recurso humano imprescindível, tanto para a
produção de explicações, quanto para a
constituição dos sentidos. Exercitá-lo, no
enfrentamento das questões envolvidas na busca da
construção de significados, pode resultar no seu
próprio aprimoramento. E tal
aprimoramento ocorrerá se o exercício do pensar merecer
atenção e cuidados especiais por parte dos educadores e
dos próprios educandos. O Programa
Filosofia para Crianças - Educação para o Pensar
oferece indicações para tanto,
fundamentação teórica consistente, metodologia
adequada e materiais de apoio para uso dos educandos e dos educadores. O
aspecto central da metodologia do Programa é a
realização do diálogo investigativo que
transforma os grupos de educandos em pequenas comunidades de
investigação. Nelas, os participantes expõem
suas idéias, escutam-se uns aos outros, questionam-se
mutuamente, comparam seus pontos de vista, complementando-os e
eventualmente, corrigindo-os. Trata-se de um verdadeiro processo de
cooperação intelectual, afetiva e criativa. As
interações sócio-linguísticas que aí
ocorrem, devidamente observadas, cuidadas e orientadas por educadores
preparados, são promotoras do desenvolvimento das
condições cognitivas: um verdadeiro processo de Educação
para o Pensar. Preparação para uma
cidadania responsável: A
participação produtiva numa pequena comunidade de
investigação exige comportamentos e atitudes de
cooperação, respeito mútuo, interesse por
objetivos comuns, avaliação crítica, que
são, dentre outros, elementos importantes para o
exercício democrático na sociedade. A
ocupação dos espaços da cidadania requer
das pessoas tais comportamentos e atitudes que podem decorrer ou ser
reforçados quando se aprende desde cedo:
Tais
aprendizados são elementos éticos necessários
às relações sociais e o domínio dos mesmos,
só é possível, no seu exercício
prático acompanhado da atenção intelectual que o
examina cuidadosamente. Tudo
o que é feito é pensado e repensado crítica e
criativamente possibilitando pesar (ponderar) justificativas, motivos e
possíveis conseqüências. Quando se pondera, res-ponde-se:
torna-se responsável. Realizar
este exercício, nas pequenas comunidades de
investigação com crianças e jovens, pode ensejar a
sua continuação na vida adulta. UM POUCO DA HISTÓRIA DO
PROGRAMA FILOSOFIA PARA CRIANÇAS No
final da década de 60, o Professor norte-americano Dr. Matthew
Lipman, preocupado com o desempenho insuficiente de seus alunos,
concebeu o Programa Filosofia para Crianças, visando
cultivar o desenvolvimento das habilidades cognitivas mediante
discussões de temas filosóficos e visando, com tais
discussões, a iniciação filosófica
de crianças e jovens. Há 34 anos, lançava, assim,
as bases do Programa de Filosofia para Crianças, inaugurando um
novo paradigma educacional que tem por meta o desenvolvimento do
pensamento crítico, criativo e cuidadoso. Em
1974, auxiliado pela Dra. Ann Margareth Sharp, fundou o Institute for
the Advancement of Philosophy for Children (IAPC),
instituição vinculada à Universidade Estadual de
MontClair, New Jersey – EUA, com o objetivo de estruturar melhor o
currículo de Filosofia para Crianças, preparar educadores
para o trabalho em sala de aula, realizar pesquisas acadêmicas
sobre o Programa e oferecer suporte e preparação para os
Centros de Filosofia em outros países. Já
na década de 70, o Programa Filosofia para Crianças
demonstrou ser uma abordagem promissora para o aprimoramento das
habilidades cognitivas e, a partir de 1976, espalhou-se pelo mundo,
sendo traduzido e trabalhado em vários países. Atualmente,
mais de 50 países trabalham com esta proposta. Entre eles:
Argentina, Armênia, Austrália, Áustria,
Bélgica, Brasil, Bulgária, Chile, Costa Rica,
Finlândia, Hungria, Islândia, Israel, Itália,
Quênia, Lituânia, Malta, México, Holanda,
Canadá, Nova Zelândia, Nigéria, Filipinas,
Polônia, Portugal, China, Romênia, Rússia,
Singapura, África do Sul, Coréia do Sul, Espanha,
Suécia, Turquia, Inglaterra, Uruguai. Lipman
acredita ser a filosofia a disciplina, por excelência, capaz de
favorecer o desenvolvimento da capacidade das crianças de fazer
juízos logicamente corretos, estimular atitudes éticas e
o pensamento reflexivo. Assim
como os filósofos, as crianças se perguntam sobre os
fundamentos dos valores e dos conhecimentos humanos. Propiciar o
processo de investigação filosófica de forma
sistemática com crianças é fornecer as ferramentas
e um método eficiente para aperfeiçoar o pensamento, pois
é na filosofia que se edificam as questões sobre o
significado da realidade e sobre o próprio processo do pensar. Em
1998, a UNESCO ofereceu ajuda para disseminação de
Filosofia para Crianças através de sua rede mundial. No
Brasil, o Programa Filosofia para Crianças foi trazido
pelas mãos da Professora Catherine Young Silva, que fundou o
Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças (CBFC), em janeiro
de 1985. Metodologia Neste
paradigma educacional não cabe à escola ensinar o produto
das investigações, mas ensinar o procedimento
investigativo. A meta é desenvolver as habilidades cognitivas
dentro de um contexto significativo e não de forma fragmentada e
automatizada. O
diálogo cumpre um papel fundamental neste contexto. É o
diálogo que, por um lado, motiva o exercício de um pensar
criterioso, criativo, autocorretivo, sensível ao contexto e, por
outro, ensina o exercício de cidadania enquanto respeito ao
outro, às opiniões divergentes, à diversidade
cultural. Ao
colocar os temas filosóficos presentes em textos narrativos
(novelas filosóficas), Matthew Lipman não quer apenas
aproximar as discussões filosóficas do cotidiano de
crianças e jovens, mas pretende aproximar o processo educacional
do filosofar, o que implica em buscar meios para transformar as salas
de aula em pequenas comunidades de investigação. O
conceito de comunidade de investigação de Matthew
Lipman envolve a necessidade de um espaço educacional onde os
envolvidos se sintam membros de uma comunidade, onde possam apossar-se
de idéias conjuntamente, construir sobre as idéias dos
outros, pensar com autonomia explorando suas
pressuposições e possam trazer para suas vidas a
percepção do que é descobrir, inventar, analisar e
criticar coletivamente. Novelas
filosóficas Preocupado
em tornar o conteúdo filosófico compreensível e
significativo para crianças, Lipman escreveu uma série de
"novelas filosóficas", histórias cujos personagens
estão procurando entender e resolver os problemas que cercam o
cotidiano. Tais
personagens não são os grandes pensadores colocados num
passado remoto, mas crianças e jovens intrigados com as
questões essenciais presentes em toda a história do
pensamento. O que é verdade? O que é beleza? Como
conhecemos? O que é justo? As
questões clássicas da filosofia ganham sentido na
narrativa, tornando o filosofar um exercício lúdico e
fascinante de descoberta do mundo, dos conceitos e do próprio
processo do pensar. As
novelas filosóficas percorrem diferentes temas relacionados
às áreas da investigação filosófica
de forma adequada às crianças. São
inúmeros os sentidos atribuídos à palavra
cidadania. O envolvimento e comprometimento com ações
coletivas fundadas na construção da identidade e na
ampliação dos direitos básicos é um desafio
a ser alcançado. O acesso às manifestações
da arte e da cultura, o acesso às inovações
tecnológicas, programas de profissionalização de
crianças e adolescentes, programas de saneamento e saúde
preventiva têm alcançado resultados bastante
significativos. No
entanto, é preciso considerar que as ações se
fundamentam num exercício de reflexão capaz de
estabelecer relações entre o indivíduo e o mundo
alicerçadas em raízes profundas dispersas na
multiplicidade de informações. O contato com essas
raízes se faz pela filosofia e pelo pensar consciente das
relações que estabelece. É a trama do tecido que
se esconde atrás de estampas que permitirá a
construção de novas teias do pensar e do agir. A
construção de uma cidadania responsável
através da iniciação filosófica de
crianças e jovens e da proposta de uma educação
para o pensar é um tema que contém os princípios
norteadores do Programa de Filosofia para Crianças -
Educação para o Pensar. O
Programa de Filosofia para Crianças propõe o envolvimento
de alunos, de forma reflexiva, com temas comprovadamente formativos do
substrato humanístico necessários a todas as pessoas,
particularmente enquanto cidadãs. Tais temas dizem respeito aos
valores (especialmente os morais), à convivência social
racional, à importância do bem pensar e do pensar
autônomo. O
Projeto de Filosofia para
Crianças é uma das
ações que torna viável a
concretização de uma proposta educacional voltada para a
cidadania responsável. Numa postura filosófica, o
conceito de cidadania não se limita à
reivindicação de direitos e cumprimento de deveres, mas
entende-se o cidadão como aquele que tem pensamento
crítico, criterioso, ético e estético. Neste
sentido, a implantação do Programa de Filosofia para
Crianças contempla o conceito de cidadania em uma perspectiva
mais ampla, uma vez que:
Desta
forma, a implantação do Programa de Filosofia para
Crianças, contempla aqui três dimensões da
cidadania:
Créditos: CBFC - Centro
Brasileiro de Filosofia para Crianças e Jovens - http://www.cbfc.org.br/
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