Educação Física

 

Professora Dirlene

 

Convidada (e conquistada) pelo envolvimento da professora Malu com o trabalho sobre a "História e cultura afro-brasileira e africana – o racismo no ambiente escolar" e todas as interessantes conseqüências que decorrem deste estudo, me perguntei como a pessoa e a educadora que sou poderia contribuir para o enriquecimento deste momento. Para minha satisfação, ao vencer um preconceito que nem sabia que tinha, pude me surpreender com os alunos e, comigo mesma.

O início foi um estudo sobre a influência da música negra na música mundial. Interessante perceber o quanto é difícil encontrar alguma que não tenha sofrido desta influência.

Convidei os alunos a descobrirem quais músicas tinham "um ou dois pés na África". Surgiram inúmeras idéias como o samba, o axé, o hip hop, o funk ( que sugeriam com um ar de dúvida, sem ter certeza se era ou não), o blues, a música de capoeira... Ficamos a pensar que era mais fácil identificar as músicas que não tinham esta influência. Eles citaram o tango e a valsa mas, ficamos de pesquisar na internet mais músicas para acrescentar em nosso repertório.

Após trocarmos idéias e cantarolarmos cada tipo de música citado, convidei-os a experimentar fisicamente os ritmos sobre os quais falamos, ouvindo, acompanhando com partes do corpo, com todo corpo, cantando, sem muitas normas, simplesmente sentindo a música. A única regra era a de não ser permitido não tentar.

E, foi aí que venci meu até então desconhecido preconceito: ao invés de rejeitarem a idéia, como imaginei que os adolescentes fariam ao se verem expostos aos colegas através da dança, sem um movimento dirigido por oura pessoa, os alunos levantaram e efetivamente, em sua grande maioria, passaram a explorar as possibilidades de movimento que cada ritmo proporcionava.

A partir daí, dançaram reagge, pagode, maracatu, rock, blues, funk, samba, pagode, música de capoeira. O sucesso do momento foi marcado pela visão de alunos que, no começo da aula faziam movimentos tímidos, passarem a entrar na dança com colegas por puro prazer, uns sugerindo movimentos diferentes aos outros, imitando movimentos da capoeira e, pouco a pouco, movimentos usados nas danças de cultos religiosos afro-brasileiros, quando o ritmo lembrava-os destes.

"A unanimidade é burra", já dizia Nelson Rodrigues. Isto quer dizer que, mesmo surpresa com a aceitação e crescente envolvimento de quase a totalidade dos alunos de cada turma, sempre havia aqueles que resistiam bravamente a participar. Alguns acabaram envolvidos pelo convite de colegas, pois estes os deixavam à vontade para dançar como sabiam, outros, não. O grupo de alunos que rejeitava o trabalho era unicamente de meninos, o que promoveu em outro momento, conversas interessantes sobre o "machismo" (como definiram alguns meninos) versus a dança e o "rebolado". Estes convidei a ajudar na colocação das músicas, pedia sugestões e fazia comentários positivos sobre os movimentos e idéias de seus colegas. Foi uma forma de participação diferente mas, não menos interessante.

Um dos alunos explicou que maracatu é uma dança que os negros escravos faziam quando iam para as matas e florestas comemorar uma boa colheita. Sendo capoeirista, acabou por motivar e ensaiar muitos colegas interessados em aprender alguns movimentos básicos da capoeira. Tudo acompanhado da música apropriada.

Neste ponto, foi proposto aos alunos que, em grupos. Eles criassem coreografias simples a partir de uma das músicas já tocadas, escolhida por eles. Houve grupos que trabalharam com blues, outros com samba, rock, capoeira e reagge.

Com a coreografia montada e ensaiada, cada grupo apresentou-a aos seus colegas que, caso assim o desejassem, poderiam dançar junto, desde que buscassem acompanhar os movimentos criados pelo grupo em questão.

Em algumas turmas, raros ficaram somente observando os colegas: todos queriam aprender a dança criada pelos grupos.

A seqüência do trabalho deu-se em outro momento, em que os alunos foram convidados a fazer o registro escrito (e desenhado, colado, pintado também) de suas percepções e observações a partir daquela atividade. Cada produção, então, foi apresentada aos colegas, debatida e, em forma de painéis, fixadas pela escola com um título escolhido por cada turma para socializar com colegas de outras turmas, as descobertas feitas com este trabalho.




           III ciclo
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