Editorial
Jornal com Bah! Finalmente, o primeiro jornal do Marcírio

     Depois de quatro meses de trabalho chega às mãos de nossos leitores o primeiro número de um jornal que nasceu do desejo dos alunos e demais segmentos da escola de possuírem seu próprio informativo.

     Este jornal, que já vinha constando das ações do Plano Anual da escola há pelo menos dois anos, teve nas aulas de Língua Portuguesa de 2º ano do 3ª ciclo e no ambiente informatizado da escola o espaço para ser projetado e realizado. Mais do que ter estes espaços garantido para que ele pudesse vir a existir, este primeiro e vitorioso número contou com o diálogo, com a cooperação e com a amizade dos 84 alunos e de alguns professores envolvidos que concordaram em se juntar para produzir algo novo e desafiador.

     Sabemos que o diálogo, cooperação e amizade não nascem da noite para o dia e sem esses três elementos nosso jornal teria morrido na casca. Levamos um bom tempo do trabalho acertando as pontas, discutindo e votando decisões a serem tomadas. Afinal eram três turmas trabalhando juntas. As turmas negociaram desde as seções que formariam o jornal, passando pelas notícias que o comporiam, até o modo como seria escolhido o seu nome.

     Enquanto entrevistavam, escreviam, conversavam, liam, reescreviam, fotografavam, digitavam e tentavam editar seus textos (mesmo lutando contra o mau-humor do Linux...), os alunos vivenciavam a experiência de construírem juntas algo que só viria a existir se todos dessem sua contribuição. Assim nasceu o Jornal com Bah!, um jornal com um nome estranho, nome assim explicado pela Michaela, aluna que sugeriu o título que acabou sendo escolhido:

Que tal de bah! é esse?

     O jornal da escola tem um nome muito estranho. O nome escolhido pelos alunos do 3ª ciclo da escola Marcírio foi Jornal com bah!. Este nome foi sugerido pelos alunos Maicon, Adriano, Michaela e Leonardo, da turma C23.

     Este nome foi tirado de uma brincadeira no refeitório da escola quando a C23 foi assistir um filme no período de Artes. Quando chegou perto do horário do recreio, os alunos perceberam que a merenda seria pão, mas quando eles olharam para o pão desanimaram, pois viram que o pão não tinha nada dentro. Daí os alunos falaram: Bah! Esse pão não tem nada!

     Assim se originou o nome do nosso jornal, o Jornal com Bah!, mas agora com um sentido diferente daquele bah! do pão. Em vez de ser como pão, vazio e sem graça, os alunos vão ler e falar: Bah! Quanta informação legal!

Mas bah! que movimento...

     Se existe um sentido que melhor traduz todo o processo de construção do Jornal com Bah! é sem dúvida o de movimento. Os quatro meses que marcam o processo de construção desse jornal foram desencadeados movimentos que modelaram de um  novo espaço-tempo escolar que questionou o formalismo da estrutura educacional, rompendo com as regras de determinação de espaço e de tempo.

     O Jornal com Bah! opera nessa lógica, estabelece as fissuras nas barreiras de contenção e aprisionamento do território disciplinar – a do ano-ciclo, a da turma, a dos saberes. Redes de aprendizagem são tecidas entre os sujeitos, não mais 84 alunos das turmas C21, C22 e C23, mas um coletivo inteligente que dá vida ao projeto pedagógico, um projeto em que todos têm competências, conhecimentos e experiência de vida para produção da inteligência.

     O projeto pedagógico do Jornal com Bah! tem como um de seus cenários o ambiente informatizado da escola. É em meio a teclados, mouses, monitores e de uma estréia (um pouco tumultuada!) com o sistema operacional Linux, que esse coletivo inteligente vai se projetando e vivenciam uma nova maneira de encontrarem sua própria voz. Esses 84 repórteres se apropriam das ferramentas computacionais para a editoração do texto coletivo, tornam-se verdadeiros proprietários de sua produção textual. O Jornal com Bah! promoveu o encontro da escrita com a informática e possibilitou a emergência de um modo dar a esses sujeitos o direito de conquista da palavra e o retorno da palavra autor para a Escola.

     As ferramentas computacionais que começam a chegar na periferia de Porto Alegre possibilitam modos diferenciados de acesso à informação e à comunicação e revitalizam a discussão do sentido da escrita escolar. O Jornal com Bah! é um exemplo do  potencial que a relação Educação-Tecnologia possuem na construção de uma rede de comunicação escrita e do exercício de uma inteligência coletiva.

Débora Conforto, Jane Mari de Souza e Michaela Aquino