BAIRRO PASSO DAS PEDRAS

texto da Profa. Daisy Sehna

 

ORIGEM DO NOME
           A origem do nome Passo das Pedras diz respeito a fatores naturais. O ter mo Passo refere-se a caminhos de passagem sobre cursor d'água . O arroio que nasce no Morro Santana e deságua no rio Gravataí, cortando a antiga Estrada do Passo do Feijó (atual av. Baltazar de Oliveira Garcia), recebeu o nome de Passo das Pedras devido à existência das pedras que serviam de ponto de referência para aqueles que usavam o caminho como alternativa entre o norte de Porto Alegre eo Passo do Feijó (atualmente município de Alvorada)
PROCESSO DE OCUPAÇÃO
           Com o aumento populacional da cidade, derivado do êxodo rural, cresceu o número  de trabalhadores e desempregados em Porto Alegre , gerando o surgimento de vilas e sub-habitações na região central da cidade. Surge o processo de urbanização visando “embelezar a cidade”, ou seja, retirar os moradores pobres que habitavam os “cortiços” para assentá-los em zonas periféricas. Formou-se, assim núcleos habitacionais periféricos na cidade, entre eles, a Vila Passo das Pedras e a Vila Ingá.  

            Em 1952, uma lei municipal criou o Departamento Municipal da Casa Popular (DMCP), que tinha como objetivos atuar na construção de vilas residenciais para a população de baixa renda, na manutenção destes locais e oferecer às famílias serviço de assistência social.  

            Foi neste contexto que surgiu o loteamento Passo das Pedras, que também era chamado de Vila Meneghetti, por ter sido implantado durante o segundo governo de Ildo Meneghetti.  

            Nas décadas de 50 e 60 do séc. XX, inúmeras famílias foram deslocadas das áreas mais centrais e do corredor industrial Passo D’Areia para ocupação da área em dois loteamentos: o Ingá (de iniciativa particular) e o Passo das Pedras (de iniciativa pública).  

            Apesar de oficialmente o inicio da implantação datar o ano de 1955, relatos orais dizem que em 1954 já haviam sido comercializados 111 terrenos e 109 casas.

           O loteamento não tinha nenhuma infra-estrutura e foi melhorando a medida que a comunidade se organizava. Fundaram o Clube de Mães  e o DMCP criou um núcleo da Legião  Brasileira de Assistência (LBA), onde hoje se localiza o Posto de Saúde.

            Um fato importante para a articulação dos moradores foi a criação da Escola Presidente Vargas inaugurada em 1958, durante a gestão do prefeito Leonel Brizola. A fundação da Escola Pepita de Leão no inicio dos anos 60 iria auxiliar ainda mais a organização da comunidade.

            Outro elemento importante na organização da comunidade foi a religião, tendo como predominância naquela época a Igreja Católica na figura do padre Hugo Cardoso e na presença do grupo de religiosas da Obra Social Imaculado Coração de Maria (OSICOM).

            Em 1963, foi fundada a Associação dos Moradores e Amigos do Passo das Pedras (AMAPP) que passou a manter uma estreita relação com o poder publico, conquistando melhorias para o bairro. A demanda da água foi o ponto de partida.

 

 

A CAIXA D'AGUA

 

            Nos tempos em que não havia água encanada, a Prefeitura abastecia a comunidade sem certa regularidade.

            A primeira conquista foi a água encanada, que só se tornou possível em 1966, com a construção da caixa d’água na esquina da Rua Ana Aurora com a Gomes Carneiro (ao lado da Escola Presidente Vargas), que serviu como referencia para a comunidade durante longo tempo.

            Mais do que um reservatório, essa caixa era o símbolo maior da luta dos moradores pelo fornecimento de água. Durante a década de 80 sua base serviu como sede do Clube de Mães 13 de Maio e para o Centro Recreativo 13 de Maio. No ano de 1999, ela foi demolida e representou para alguns moradores “a perda de um patrimônio da vila”.

           

VILA OPERARIA

          

           No final da década de 60, a área do Passo das Pedras começou a ficar saturada e algumas famílias foram se estabelecendo no limite da vila, em uma área denominada Avanço e que posteriormente foi denominada de Vila Operaria por iniciativa dos moradores.

            A população da Vila Operaria desde o inicio da ocupação sofria com falta de infra-estrutura básica como água, esgoto e iluminação. A água foi fornecida aos moradores por um cano que vinha da Rua Sebastião Barreto, que também fornecia luz de forma clandestina.

            A rede elétrica só foi instalada pela CEEE depois de 20 anos do início da ocupação, quando os moradores se uniram na busca de solução para o problema.

 

DECADA DE 70: A URBANIZAÇÃO
          

           Durante a administração do prefeito Guilherme Sócias Villela (1975-1979) foram executadas as obras de implantação da rede de esgoto pluvial, a construção do Centro Esportivo Recreativo Correio do Povo, o aterro de áreas, plantio de árvores e complementação da pavimentação e passeios. No final da década de 70, o bairro aparece classificado como área urbenizada nos relatórios do DEMHAB (Departamento Municipal de Habitação).

 

DE VILA PARA JARDIM
         

           Em 1984, o Passo das Pedras muda o status de vila para Jardim Passo das Pedras. Dentre a exposição de motivos estão: a infra-estrutura, com 97% de vias calcadas e arborizadas, água e luz em toda a comunidade, 95% de esgoto cloacal, 7 telefones públicos e uma linha de ônibus exclusiva da comunidade.

SURGE O PASSO DAS PEDRAS II
 

          

Nos anos 80, o DEMHAB adquiriu uma área conhecida pelo nome de Passo das Pedras II e, informalmente, por Metralhadora, devido ao seu formato. A vila foi ocupada através de invasão e uma parcela foi reassentada pelo próprio DEMHAB.

 

    ·        Vila Jardim Vitória (Dez de Maio)

Em 1989, famílias que haviam invadido a Praça  Três do Jardim Leopoldina foram reassentadas no cabo da Metralhadora (Rua Jardim Vitória e Avenida 10 de Maio), dando origem a Vila Jardim Vitória, também denominada Dez de Maio.

A luta pela regularização do loteamento se deu a partir da Sociedade Comunitária de Habitação Popular Dez de Maio. No ultimo dia do mandato do prefeito Alceu Collares, foi doada para a Associação uma área do Passo das Pedras

No Passo das Pedras, as escolas foram espaços de articulação da comunidade e no Passo das Pedras II são as creches que ocupam essa posição. A Creche Maria Teresa é um exemplo, sua construção deve-se, principalmente, em função das mulheres que participaram ativamente desde o início da ocupação até a conquista dos primeiros serviços no local.

  • Vista Alegre (Barro Vermelho)

Localizada ao norte da Vila Dez de Maio, a ocupação na área da Vista Alegre iniciou-sa e no ano de 1992. Este local era uma área verde onde havia um tambo de leite.

Esta área, de acordo com o estudo "Mapa da Irregularidade Fundiária de Porto Alegre", seria de propriedade do DETRAN. Como a área é comercializada pelo DEMHAB, é uma vila com infra-estrutura satisfatória, tendo ainda domicilios classificados como área de risco.

A escolha do nome refere-se, provavelmente, a visão privilegiada que a região oferece.

  • Vila Jardim dos Coqueiros

É a maior das ocupações irregulares da recente história do bairro Paso das Pedras.

Em 10 de maio de 1992, ocorreu  a ocupação no cano da Metralhadora, denominada Vila Jardim dos Coqueiros. Em 1994, ocorreu a segunda ocupa ção no cano, denominada Vila Jardim dos Coqueiros II. Em 1995, ocorreu a terceira ocupação no cano, denominada Vila Jardim dos Coqueiros III. Em 1997, as três vilas são unificadas em Vila Jardim dos Coqueiros e inscrita no Orçamento Paricipativo para regularização fundiária.

A área na qual se encontra a vila era em parte uma chácara, onde se plantava agrião e o restante do terreno pertencia ao DEMHAB. Quanto ao nome, deve-se, provavelmente a coqueiros que existiam naquela área.

  • Vila Jardim Altos da Lagoa

Localizada na extremidade sul do Passo das Pedras, entre um terreno pertencente ao Tumelero e uma área particular . Delimita-se com o Passo das Pedras II ao norte, a Vila Jardim dos Coqueiros a oeste, uma chácara que faz divisa com a FAPA ao sul e a Avenida Manoel Elias a leste. É cercada por um declive geográfico natural, que nos períodos de maior precipitação de água tende ao alagamento. As condições geográficas do lugar influenciaram no próprio nome. A Lagoa foi apropriada pela comunidade, sendo adotada como símbolo de suas conquistas.

Também conhecida como pente da Metralhadora, apresenta uma peculiaridade que é o isolamento da vila em relação ao Passo das Pedras propriamente dito.

A ocupação iniciou em novembro de 1992. Foram assentados em uma área verde do DEMHAB, que foi destinada para ser ocupada por 115 famílias.

O BAIRRO PASSO DAS PEDRAS NO SÉCULO XXI
           O bairro Passo das Pedras chega ao início do século XXI ainda como um bairro não oficial de Porto Alegre. Apesar dos benefícios conquistados, não se deu sem perdas. Talvez a maior prova disso seja a mudança na relação que a comunidade mantinha com o arroio que serviu de inspiração para o nome do bairro.

           No planejamento público e privado dos loteamentos são previstos a utilização dos canais naturais de água para descarga da rede de esgoto. Outro fator que prejudica a qualidade da água do arroio: o depósito de lixo. A poluição das águas e a presença crescente de zoonoses vão conferindo uma nova denominação ao arroio valão.

 

 

Fonte: Memória dos bairros: Passo das Pedras                                                      

    Angelo Funck, Cassius Marcelus Cruz e Leticia Bonetti Gallego

    Secretaria Municipal da Cultura, 2002