LIMITES

TEXTO - 1

Educação

A importância do limite

Saber dizer “não” é, segundo os especialistas, um dos aspectos importantes e saudáveis da educação de crianças e adolescentes.

Uma das maiores dificuldades na educação de uma criança consiste na tarefa de saber dosar amor e permissividade com limite e autoridade. Todos têm consciência da importância de impor limites, mas o fato de saber disso não é suficiente para fazer desta uma tarefa fácil. Os pais freqüentemente se deparam com muitas dúvidas: Estou agindo certo? Onde eu errei? Por que ele não me obedece?

É importante analisar como a noção do proibido vai se constituindo ao longo do desenvolvimento infantil para compreender melhor o comportamento da criança. Ela, até o fim do primeiro ano de vida, obedece ao princípio primordial da vida humana: o princípio do prazer. Por isso procura apenas fazer o que lhe causa satisfação e tenta fugir do que é vivido como algo desprazeroso. Nesse estágio, ela age por impulso instintivo. Esse é o primeiro sistema de funcionamento mental, o mais primitivo e existente desde o nascimento do indivíduo, que é denominado pela psicologia de id.

O id é essencialmente impulsivo – age primeiro e pensa depois. É imperioso, intolerante, egoísta e amoral; é agressivo, sexual, destrutivo, ciumento, enfim, é tudo que existe de selvagem em nossa natureza. Assim, a criança quer fazer tudo o que lhe vem à mente: deseja o que vê, imita o que fazem ao seu redor e tem permanentemente insaciável e ativa a sua curiosidade que, freqüentemente, aborrece, preocupa e constrange as pessoas. Ao mesmo tempo, essa impulsividade é uma das necessidades mais prementes em seu desenvolvimento, que, quando reprimida, gera crianças sem brilho, apáticas, desinteressadas e rigidamente bem comportadas. A necessidade de tocar, apalpar, mexer, demonstrar, destruir, desfazer e tentar reconstruir objetos são atividades importantíssimas e fazem parte de sua forma de entrar em contato com o mundo externo.

A partir dos 18 meses, a criança começa a se opor para afirmar-se e existir por si mesma. É o início da fase do não, tão temida pelos pais, e que termina, na melhor das hipóteses, por volta dos três ou quatro anos. Nessa fase, trata-se de uma oposição sistemática, porém necessária à estruturação e organização de sua personalidade. Basta substituir o "não" por "eu" para se ter a chave do problema. Para uma criança, dizer "não" significa apenas: "Eu acho que não! E você?" Ela quer simplesmente uma resposta dos pais que, favorável ou não, terá, pelo menos, o mérito de indicar os limites. A partir dos três ou quatro anos, a criança passa, pouco a pouco, do "não" sistemático – modo de comunicação arcaico, mas necessário ao seu desenvolvimento – para o "não" refletido, que afirma seus gostos e escolhas.

Culpa e castigo

Desde cedo, a criança percebe que seu comportamento impulsivo, em vez de satisfação, freqüentemente acarreta uma censura por parte do mundo externo. Ela passa, assim, a dominar suas atividades instintivas. Como, acima de tudo, a criança deseja o apoio e a aprovação dos adultos e necessita imensamente deles, especialmente do pai e da mãe, começa a compreender que precisa controlar melhor seus desejos e impulsos. Ao conformar-se gradualmente com as imposições do meio ambiente (educação), controlando ou repelindo os desejos que não podem ou não devem ser satisfeitos, vai se estruturando o sistema moderador ou filtrador, o ego.

O ego faz com que a criança troque o princípio do prazer, que orientava suas atividades instintivas, pelo princípio da realidade, mediante o qual consegue adiar ou anular os impulsos que não são adequados ao meio em que vivem. O ego coloca-se como intermediário entre o id e o mundo externo, entre as exigências impulsivas e as restrições do meio.

A parte moral ou ética da personalidade se manifesta quando julgamos nossos atos na categoria de bom ou mau. Essas considerações dependem de um sistema de auto censura, denominado superego. O superego desenvolve-se a partir do ego, mediante a internalização ou incorporação dos modelos externos, das advertências e censuras.

O superego passa a atuar sobre a criança da mesma maneira que os pais: punindo-a quando se comporta mal e dando-lhe a sensação de bem-estar quando age corretamente. A punição assume um aspecto de sentimento de culpa ou de inferioridade, de angústia ou inquietação. A recompensa proporciona, por sua vez, orgulho, realização ou sensação de cumprimento do dever, ou seja, uma virtude.

Até dois ou três anos, a noção do proibido não lhe faz ainda muito sentido. Será preciso repetir-lhe muitas vezes o que ela pode ou não pode fazer, explicando-lhe em poucas palavras a razão dessa proibição. Somente depois dos três ou quatro anos a criança passa a compreender, cada vez melhor, as ordens dadas, começando a entender as noções de bem e de mal. E, a princípio, ela procurará obedecer aos pais somente para satisfazê-los.

As crianças, ao contrário do que se pensa, são muito preocupadas com regras. Parece que agir dentro de limites, cuidadosamente estabelecidos, oferece-lhes uma estrutura segura para lidar com uma situação nova e desconhecida.

É fundamental que os adultos tenham clareza de suas convicções e sejam fiéis a elas, pois, para os pequenos, eles são modelos.

 

TEXTO - 2

Limites. Ainda dá tempo?

Os erros de educação cometidos na infância
produzem efeitos danosos na adolescência

Os pais de adolescentes convivem com um eterno desafio, que é impor limites aos filhos. "É um fenômeno da alternância de gerações", teoriza o psiquiatra paulista Içami Tiba. "Os pais dos jovens de hoje foram educados de forma autoritária e, com medo de repetir o erro com os próprios filhos, acabaram caindo no extremo oposto, que é a permissividade." Para os pais que descuidaram da tarefa de colocar freios na infância e agora têm de lidar com adolescentes intratáveis, uma má notícia: com o tempo, fica difícil reverter esse quadro. Mas não é impossível, claro. "O adolescente é um ser em desenvolvimento. Mesmo que seja um caso perdido, os pais nunca podem partir dessa premissa", afirma o psiquiatra Francisco Baptista Assumpção Junior, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Para auxiliar os pais nessa tarefa espinhosa, existe uma vasta literatura sobre o assunto. Lançado recentemente, Limites sem Trauma, da educadora carioca Tania Zagury, já vendeu 50.000 exemplares de dez edições. Disciplina – O Limite na Medida Certa, de Içami Tiba, tornou-se um sucesso, com 356.000 livros vendidos em 36 edições. O que os pais devem ter em mente, em primeiro lugar, é que não adianta agir como no passado. Antigamente, quando um filho queria fazer alguma coisa que os pais reprovavam, bastava um deles dizer: "Você não fará isso porque eu não quero". E o assunto estava encerrado. Isso não funciona mais. Os jovens são mais bem informados. São mais questionadores. Isso é bom. Significa que, no futuro, não irão aceitar qualquer coisa que lhes for imposta. Os pais, no entanto, ganharam um trabalho extra. Não basta proibir. É preciso justificar, com bons argumentos, a proibição. Antigamente, eram os filhos que tinham de dar explicações aos pais. Hoje, são os pais que, na hora dos limites, as dão aos filhos. "O pai moderno é aquele que estabelece limites com fundamentos educacionais", ensina Tania Zagury.

Os especialistas concordam em um ponto: a boa educação do adolescente é aquela que começa na infância. É preciso estabelecer regras claras desde cedo para evitar futuros problemas de comportamento. A falta de limites é encarada como algo negativo pela própria criança. Para ela, isso pode ser sinônimo de falta de afeto. Outro problema freqüente é a discordância entre os pais. É importante que ambos cheguem a um acordo antes de impor as regras. Caso contrário, a criança fica sem saber quem está certo. Ou, pior, pode explorar essa contradição. Os especialistas comparam o processo educacional a um barco. É importante que, desde a infância, os pais remem na mesma direção.

Trata-se de um desafio complicado, mas é essencial enfrentá-lo. A falta de limites não causa apenas constrangimento familiar. Um jovem que burla as regras em casa e não é punido tende a fazer o mesmo fora. E as punições do mundo real costumam ser mais severas. Pesquisas mostram que grande parte dos adolescentes de classe média que dirigem embriagados, tomam drogas ou entram em brigas de gangues – provocando acidentes ou arriscando a própria integridade física – vem de famílias que não souberam impor limites a eles.

 

Por: Rubiana Peixoto.

 

TEXTO - 3

por : Inteligência Artificial

Autor : Claudinei

Publicado em: março 05, 2008

 

Nós, pais e educadores, viemos de uma sociedade modelo patriarcal em que a autoridade dos pais era inquestionável. As fronteiras eram rígidas, e como conseqüência, as relações  eram distanciadas. Pais e filhos se desconheciam como pessoas e construíam suas vidas distanciados um dos outros, ignorando sonhos, ideais, mitos, medos e fraquezas. O limite na sociedade patriarcal era visível e impossível de ser transposto a não ser com grandes movimentos e acontecimentos que, ao mesmo tempo em que abriam brechas para uma eventual proximidade, causavam escândalo e sofrimento. Comportamentos como  engravidar na adolescência, bater o carro, drogar-se, estourar bombas em sala de aula eram como um grito, um pedido dos jovens para que fossem ouvidos, considerados e entendidos.
As crianças deviam obediência absoluta e cega a seus pais e as questões da infância aconteciam nos quintais, distantes dos pais e de preferência, que eles não descobrissem.
Em sala de aula, os professores proferiam suas aulas e os alunos, em silêncio, lutavam para entender o mundo dos adultos, tão distante deles. Como conseqüência, a relação entre professor e alunos era distante e fria, marcada pelo desconhecimento um do outro. Tudo
que acontecia, considerado próprio da infância ou da adolescência, ficava à margem do mundo adulto, longe da sala de estar ou das salas de aulas.
A geração que viveu distanciada de seus adultos jurou fazer algo diferente de seus pais e professores e, como reação à autoridade distanciada e sem lógica, construíram relações diametralmente opostas. Para negar as relações distanciadas do diálogo e do entendimento, acabaram construindo fronteiras difusas, em que um fala em nome do outro, em que as  responsabilidades se misturam, em que as crianças acabam se misturando com os adultos, e muitas vezes, infelizmente, decidindo por eles. As relações são emaranhadas, a autoridade fica desacreditada e acaba sendo exercida pelas crianças ou pelos adolescentes. Os pais e professores ao reagirem ao que eles viveram, acabam construindo um modelo relacional em que eles não têm referência e, portanto, os confunde também. Se a geração anterior pecou pelo excesso de autoridade, a geração atual peca pela falta dela. É tão danoso para o desenvolvimento da autonomia o excesso de autoridade quanto
a sua falta. Se o autoritarismo desmedido tarda a construção da autonomia e da identidade, a falta de autoridade e de limites inviabiliza que a criança entre no mundo adulto, o  mundo da razão.
A criança necessita estabelecer com seus pais, professores e com outros adultos relações equilibradas, decorrentes de fronteiras nítidas. É fundamental que a criança receba os  “NÃOS” que fazem parte da educação para que ela possa qualificar, adequadamente, os seus “SINS”, que representam seus ganhos. Quem tem tudo o que quer, sem querer  verdadeiramente, não saberá valorizar, pois não conquistou, não se movimentou para realizar ou conquistar seu desejo. Em verdade, muitas vezes as crianças “querem” as
coisas que seus pais podem comprar para “terem” seus pais.
Instrumentalizar uma criança para o exercício pleno de sua cidadania é, antes de tudo, localizá-la em seu contexto sócio-afetivo, e essa tarefa inicia-se em casa e é reelaborada pela escola e pelos outros seguimentos da sociedade.
Educar é dar subsídios para que as crianças possam transpor limites, ou, ao contrário, que elas possam reconhecer o limite que não deveM transpor. Aos pais e educadores é reservada a tarefa de dar o suporte emocional e cognitivo para que as crianças desenvolvam bases de raciocínio que lhes viabilizem o bom senso e o conhecimento adequado para a difícil tarefa de crescer e inserir-se no contexto produtivo. 
O limite prepara a criança para o entendimento de que ela não é o centro do universo, que apesar dela ser amada e respeitada, outras pessoas também o são. Ao mesmo tempo em que a criança percebe que ela é importantíssima para seus pais, parentes, professores e amigos, passa a reconhecer a importância e o lugar das outras pessoas.
O professor Yves de La Taille2 afirma que há três tipos de limites, no entanto, apenas um é desejável sob o ponto de vista da formação de um sujeito crítico, adequado e socialmente bem instrumentalizado. O primeiro tipo é o limite decorrente da educação autoritária, em que a criança obedece por medo de ser punido, sem uma atividade reflexiva diante do fato, podendo vir a cometer a mesma falta inúmeras outras vezes. A obediência por intimidação não favorece a mudança do modo de pensar, apenas cerceia a ação. “Eu não quero que você saia com esse menino e ponto final!” A segunda forma de limites, igualmente indesejável, é a por ameaça da retirada do afeto. A criança obedece para não deixar seus pais tristes, para ela não ser feia, porém, igualmente não reorganiza o pensar. A criança não aprende a raciocinar  diante de outro fato semelhante, e o que é pior, aprende que ela, a qualquer momento pode perder o amor de seus pais ou o afeto de seus professores. “Minha filha, porque você age dessa forma...a mãe fica tão triste com você! Você quer deixar a mãe triste? Então não faça mais isso...” Apenas o limite elucidativo, o terceiro tipo, que é decorrente da clareza de comunicação e de raciocínio, educa para a construção da autonomia. “Meu filho, se você continuar agindo dessa forma seus amigos não vão te convidar mais para brincar.”
 

Bibliografia

Limites, Um Desafio Para Pais e Educadores  por   Claudinei, 2008  

TEXTO - 4

LIMITES NA INFÂNCIA, FUNDAMENTAIS PARA A FORMAÇÃO DO CIDADÃO


Quem me conhece sabe que costumo ser bastante compreensiva, tolerante e observo as circunstâncias em que cada fato ocorre. Mas o que tenho assistido são atitudes de extrema falta de educação e limites por parte das crianças e adolescentes. São poucas as crianças que respeitam regras, sabem a hora de falar e de calar, o tom apropriado para as situações. São egoístas, acham que podem tudo, não pensam nos colegas e não reconhecem autoridade. Muitos põem a culpa na mídia, outros na escola. Mas quer saber? A responsabilidade maior é e sempre será da família. A família está se omitindo de suas responsabilidades de educar seus filhos. Hoje a criança é colocada na escola sem a menor noção de comportamento adequado para estar lá. Espera-se que o professor ensine tudo. Não sabem parar para ouvir uma história, não sabem respeitar os colegas, esperar sua vez. Os pais precisam saber que o professor, por mais que queira, não poderá passar para todos os alunos, os valores que cabe à família fazê-lo. Por várias vezes já vi responsáveis por crianças que apresentam problemas de conduta na escola serem chamados para tentarmos solucionar juntos o problema e ouvir como resposta simplesmente"não sei mais o que fazer com este menino". Se um pai ou uma mãe perdeu o controle de sua criança, o que é que a escola poderá fazer? Ou pior: o pai ou (i)responsável dar toda a razão ao filhinho mal-educado. É claro que a escola sempre procura vários caminhos para a solução do problema, apoio de profissionais de outras áreas e muitas vezes costuma conseguir amenizar situação dentro do ambiente escolar. Mas e depois? Nenhuma criança vive somente na escola. Além do mais, o peso maior da formação do caráter da criança é sempre da família. Acho até que a escola está sendo muito paternalista e tentando assumir uma função que não é dela. Acho também que os governantes deveriam chamar os pais à responsabilidade. O ECA é muito importante, serve para punir os abusos e covardias cometidas contra os pequenos, mas está pecando pelo exagero. Tudo virou constrangimento e os pais estão se valendo disso para tentar tirar proveitos. Os professores vivem sob pressão, submetidos a todo o tipo de desrespeito por parte das crianças e jovens, apanhando na face esquerda e tendo que oferecer a direita. Tudo isso faz com que o ensino perca a qualidade cada vez mais. Vai chegar um tempo em que por maior que seja o salário oferecido, ninguém desejará ser professor. Vamos preferir ganhar menos e ter a saúde física, mental e neurológica preservada. É uma pena porque as crianças não têm culpa e são as mais prejudicadas. Elas não nascem sabendo, precisam ser ensinadas e com urgência, antes que a sociedade se torne insuportável. Crianças crescem e têm que ser moldadas enquanto pequenas...

 

TEXTO - 5

Jardim de Infância:

Limite com amor  

Até a década de 40, os pais decidiam tudo pelos filhos. Havia muita repressão. A partir dos anos 70, depois dos movimentos sociais e políticos a favor da liberdade nas relações, a idéia era educar as crianças evitando dar muitos limites. Esses filhos cresceram, quase sem ouvir um ''não''. Agora, trocaram de lugar, são pais, seguem as recomendações pedagógicas de que é preciso impor limites, mas estão perdidos.

Para pedagogos e psicólogos, hoje é preciso dizer ''não'' por conta de vários problemas sociais: drogas, violência, entre outros. Mas também é necessário saber a hora de dizer ''sim''. Segundo a terapeuta infantil, Maria José Borges, as pessoas deveriam se dedicar mais aos filhos para poder dar limites.

''Pelo afeto, a gente pode dizer 'não' menos vezes e ser menos rigoroso'', opina a terapeuta. No parecer dela, a criança que se sente apoiada, aceita melhor a imposição dos limites.

A educadora Tania Zagury defende que é preciso dizer sim sempre que possível, e não, quando for necessário.

''O problema é o exagero. O fato de dar limites não significa dizer não sempre. Os pais precisam acompanhar os filhos em todas as fases do desenvolvimento e ter equilíbrio e consciência do que pode ser prejudicial ou não'', alerta Tania.

Arte para crianças

Apresentar o mundo das artes brasileiras ao público infanto-juvenil é da proposta da Coleção de História da Arte Brasileira para Crianças. A autora, Nereide Schilaro Santa Rosa, mostra a evolução da cultura no país, através das obras produzidas desde o século 17, passando pelo Modernismo, Abstracionismo, arte barroca e popular. Editado em seis volumes. R$ 18, cada volume.

Limites, Um Desafio Para Pais e Educadores.

Edições Pinakotheke - Tel: 2537-7566.

 

TEXTO - 6

O que são Limites?

"Os limites são Fronteiras a serem transpostas, seja em direção a maturidade, seja à excelência, a maioria das crianças de hoje na verdade é sufocada por tantos limites: são convidadas a permanecer em seu "mundo" infantil ou adolescente, são desestimuladas a valorizar e procurar a excelência e o auto-respeito. Todavia, se os entendermos como fronteiras que não devem ser transpostas,é em geral correto afirmar que lhes faltam limites. na verdade, são as duas faces de uma mesma moeda: freqüentemente, é a mesma pessoa que não transpõe os limites a serem superados e que atravessa aqueles a serem superados.
Portanto é uma fronteira que não deve ser transposta, a demarcação de um domínio que não deve ser invadido"(Taille, 2001 pag.51)

                                               

 

TEXTO - 7

Os limites, as leis e o papel dos pais em transmiti-los aos filhos:

Muitas vezes nos parece fácil falar de limites. Educadores e psicólogos enumeram uma série de regras e “porquês” do que se deve ou não fazer com uma criança para transmitir-lhe os tais “limites”. Mas por que na prática isso se torna uma tarefa tão difícil? Por que os pais tantas vezes se vêem esgotados em repreender os filhos e, na maioria das vezes, não obtêm resultados?

A questão do limite no desenvolvimento de uma criança é muito mais complexa do que se imagina e são justamente os pais (ou aqueles que cuidam da criança) os grandes responsáveis pela sua adaptação crítica às regras sociais.

Bom, você deve estar se perguntando o porquê desta questão ser tão complexa, e também o porquê qualquer teoria acerca do comportamento infantil não ser capaz de “dar conta do recado na hora H”, isto é, na hora de impor limites a uma criança.

A resposta para essa questão é que essa complexidade se funda na forma através da qual os limites são passados. Na verdade trata-se de um aprendizado puramente emocional e, portanto, falar de teoria neste momento não ajuda muito.

A maior dificuldade encontrada nesse aprendizado sustenta-se na afirmativa: os pais, ao tentarem impor limites para seus filhos, inevitavelmente estarão tendo que lidar com suas próprias questões e problemas relacionados a limites.

Entendendo-se a palavra limite como regras ou leis em geral podemos citar alguns exemplos. Um pai ou uma mãe que teve dificuldade em internalizar ou apreender os limites dados pelos seus próprios pais, terão inevitavelmente dificuldade em transmitir esse aprendizado aos filhos, pois estarão tentando passar um aprendizado que não se afirma na sua prática cotidiana. Um pai que tem como hábito cometer excesso de velocidade ao dirigir veículos, certamente não poderá convencer o seu filhinho de que ele não deve cometer excessos, pois ele mesmo não respeita esses limites.

A partir desse momento creio que “papais e mamães” já estejam começando a compreender porque impor limites para um filho é tão complicado. Na verdade, esta complicação surge porque o tempo todo estamos lidando com nossos próprios limites, atualizando-os e revivendo a maneira pela qual estes nos foram transmitidos pelos nossos pais.

Neste momento lembro-me daquela antiga frase, “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” . Isso porque a maioria dos pais busca dar limites aos filhos desta forma, repreendendo a criança de cometer excessos, porém praticando atos excessivos, como por exemplo, bater com violência.

Infelizmente, não posso ensinar aos pais o que fazer durante esse aprendizado dos filhos (até porque cada casal é diferente e cada filho também), todavia, constitui-se tarefa fundamental para os pais durante esse processo rever suas atitudes, crenças e valores; procurando transmitir aos filhos apenas aquilo que lhes seja legítimo.

É importante, ainda, dizer que os pais devem sempre representar figuras de autoridade diante dos filhos, porém isto não necessariamente significa que desempenhem apenas funções punitivas. A figura de autoridade deve ser firme porque esse papel primariamente desempenhado pelos pais e respeitado pela criança, será futuramente desempenhado pela sociedade e retratado pelas leis.

Dessa forma, a figura de autoridade dos pais, a maneira pela qual a criança vai lidar com ela e com os limites, constitui-se a base para a introjeção das regras sociais e a adaptação a elas na idade adulta.

 

Fernanda Travassos - Psicoterapeuta

Fonte: Guia do Bebê.