AGRESSIVIDADE
TEXTO - 1

Agressividade e violência juvenis assustam

Dóris Fialcoff

Muitos já se perguntaram sobre o que está acontecendo com as crianças e adolescentes. Como se não bastassem os exemplos corriqueiros de vandalismo — nas vizinhanças, em alguma escola e, às vezes, na própria família —, a imprensa constantemente choca a sociedade ao noticiar tragédias deflagradas por alguém de 11, 14 ou 17, 18 anos. Esses, claro, já são casos extremos, que ultrapassaram os limites da agressividade e atingiram o patamar da violência.

Agressividade e violência são termos que parecem sinônimos, mas o psicólogo Júlio Walz, de Porto Alegre, explica a existência de uma grande diferença: "quando nos referimos à agressividade, falamos de um nível de relação humana onde ainda é possível o diálogo. Na violência, ele não é mais possível, a situação já se encaminha para atitudes extremas", conceitua.

Segundo o psiquiatra José Ottoni Outeiral, da capital gaúcha, estatísticas mostram que no Brasil existem 20 milhões de crianças e adolescentes não assistidos, cujas famílias ganham um salário mínimo ou menos. Para ele, esses números somados ao alto índice de desempregados ( em São Paulo são 1,8 milhões e no Rio Grande do Sul mais de 850 mil), à realidade dramática do mercado, e ainda à conseqüente dificuldade de manter uma estrutura básica para a família, resultam em poderoso gerador de angústias que, por sua vez, detonam a violência.

Dados também concretos, embora sob outro contexto, só vêm confirmar que agressividade e violência não são sintomas exclusivos da população de baixa renda. Na mesma escola é um território também se manifestam essas condutas, o que, por isso mesmo, reforça o seu papel "cuidador", termo escolhido didaticamente por Júlio Walz.

Para o psicólogo, que presta assessoria à escolas, em todo encontro humano há tensão. Ou seja: os conflitos nessa área sempre existiram, porém, a experiência tem lhe mostrado que escolas e professores estão percebendo, já há algum tempo, estarem obtendo menos controle sobre a sala-de-aula. Além dos problemas mais graves de disciplina, do aumento na atitude de afronta por parte dos alunos, e da desmotivação para os estudos, tem aumentado muito o desentendimento entre os próprios estudantes. Walz diz não saber quais são os fatores causadores desse processo, mas constata na esfera escolar problemas de convívio e também de violência.

Ele confessa que isso lhe chama a atenção "porque a escola, como o hospital, o posto de saúde, seriam, teoricamente, locais de cuidado, onde as pessoas poderiam se sentir ajudadas, mas acabam até sendo alvo de depredações e assaltos", intriga-se. "Além da sua tarefa, parece que os "cuidadores" ainda têm de ficar convencendo os "cuidados" de que isso é bom".

Mas e o que fazer para modificar esse quadro? Como psicólogo, Walz avalia que a tendência de pais, professores ou orientadores, diante de uma situação agressiva é ficarem com a mente aprisionada, com a idéia fixa. "E assim, parece que se exaure a capacidade de interlocução ou de resolução do conflito; e aí começa a filosofia do olho por olho, dente por dente", acredita. Para elucidar, ele cita um exemplo prático: em uma turma de 2º grau, uma professora ao entrar na sala e puxar sua cadeira encontrou sobre ela uma salsicha e molho de tomate. Ficou brava, xingou os alunos de forma descontrolada e saiu da classe escutando risos. Levou o ocorrido à reunião de professores para discuti-lo com os colegas. Na ocasião, outra professora disse ter experimentado a mesma provocação, em outra escola. Só que ela, diante do fato, apesar de ter ficado perturbada, resolveu aliviar e perguntar quem estava com o pão e a mostarda, pois daquele jeito não dava para fazer cachorro quente. Os alunos riram, mas também ficaram sem graça. Ela colocou aquela cadeira ao lado da sua mesa, deixando-a à mostra, pegou outra, e deu prosseguimento à aula.

Na avaliação de Júlio Walz, a primeira recebeu a realidade de forma bruta, intoxicou-se e ficou com a idéia aprisionada, cuja devolução para a turma foi a descarga irada e recíproca. A outra transformou aquilo em um jogo, no qual envolveu os alunos, de forma que o material agressivo e doente não adquirisse contornos de violência. Aqueles professores chegaram a conclusão de que é importante para quem é "cuidador", professor ou pai, não retribuir o ato agressivo na mesma moeda, mas não deixar de marcá-lo.

A psicóloga Cristiane Monteiro Burin, também de Porto Alegre, revela que em conversas com alunos, depois do acontecimento, é comum percebê-los assustados, dizendo que não era àquela a intenção, que não era tanto. Alerta que a linguagem dos adolescentes é muito mais de ação, pois, "por terem um comportamento mais regressivo, dão mais vazão ao impulso", argumenta. Sobre essa impulsividade, o psiquiatra paulista David Léo Levisky ensina que, nessa etapa do desenvolvimento, as pessoas buscam a satisfação imediata dos desejos, sem passar pelos critérios de avaliação, simbolização e linguagem. "Percebem, não raro, as conseqüência de seus atos afetivos após a ocorrência dos fatos", informa.

Walz reconhece a forte exigência sobre a figura do "cuidador", porque este precisa ter mais liberdade de pensar, para não se deixar aprisionar pelo grupo, que está regressivo. Brincando com as palavras, Cristiane diz que esse período de "anormalidade", é normal e que é preciso passar por ele. Pais e professores também. A maior dificuldade é justamente administrar os conflitos, mas acredita que a solução pode ser descoberta a partir do encontro, por exemplo, pais e filhos.

CAÇULA - "Um diretor de escola comentou comigo que tem a impressão de que nos últimos dez ou quinze anos, os professores estão iniciando no magistério cada vez mais novos", compartilha Júlio Walz. "Ou seja, muito identificados com os adolescentes, sem eles próprios estarem resolvidos na sua adolescência". Para o psicólogo, estes jovens professores — de 20, 22 anos — são pessoas com muita potencialidade e criatividade, mas com algumas dificuldades em se mostrar como adulto para os adolescentes, que precisam de uma identificação.

Uma interrelação entre a escola e a família é imprescindível para a psicóloga, também de Porto Alegre, Simone Faoro Bertoni, "porém não para falar sobre o que fazer com as crianças, mas o que fazer conosco, adultos", especifica, dando um exemplo: "como vamos lidar com a manifestação de sexualidade deles, se não sabemos falar da nossa".

Júlio Walz também pensa assim. Vê como fundamental haver um momento em que a escola possa ser a "cuidadora" dos seus professores. Acha que assim estarão oportunizando-lhes um salutar afastamento da realidade para pensarem sobre si, e não simplesmente ficar agindo. "Eu pego muito o exemplo de casa, porque ser só pai e mãe é extremamente desgastante e acabamos ficando chatos com os filhos", compara.

Cristiane não apenas concorda com a medida, como o coloca em prática. Mantém, em uma escola onde presta serviço, o projeto Professor conselheiro, no qual, através de reuniões semanais, o quadro docente discute sobre as dificuldades do dia-a-dia. Esse grupo já estudou sobre adolescência, sexualidade e também o tema Entrevistas com os pais, pois perceberam que alguns também estão desorientados, inseguros sobre como manejar as situações em casa. "As vezes até colocam a responsabilidade na escola ou no professor, o que pode acabar naquele ping-pong, um acusando o outro", preocupa-se Cristiane, enfatizando a necessidade de certo distanciamento, para que o profissional possa "sair do papel de que ele tem de resolver, que é o culpado e precisa ficar se defendendo. Assim poderá ter uma atitude de compreensão, de entender que também aquele pai tem dificuldades, e tentar propor-lhe uma parceria na resolução, afinal não estão um contra o outro". Propiciar esse espaço, acredita a psicóloga, é também uma função da escola.

Como um conselho para tentar resolver essa problemática, Walz ensina que em primeiro lugar é preciso respeitar o tempo e o espaço dos alunos, contudo não só tolerar, mas criar uma atitude de tentativa de encaminhamento para passar da agressividade para a criatividade.

 

TEXTO - 2

AGRESSIVIDADE INFANTIL

 Ao chegar à escola, cada criança leva consigo uma experiência de vida que lhe é peculiar. Algumas vêm de lares desfeitos, outras vivem sob uma constante ausência dos pais. Há aquelas também que são super protegidas ou até, muitas vezes, vivem em liberdade total. Enfim são inúmeras as situações, vivenciadas pelas crianças, que desencadeiam comportamentos muitas vezes mal interpretados por aqueles que as rodeiam.

 Em conseqüência de sua história de vida, as crianças podem mostrar-se, no ambientes escolares, bastante agitadas, extremamente tranqüilas, ou conseguir manter um equilíbrio entre essas partes, adequando-se aos padrões de comportamento estabelecido pela instituição escolar. Há uma tendência muito grande os professores em relacionarem-se melhor com essas duas últimas. As outras são vistas como “crianças difíceis”. “A criança difícil é a que se opõe aos esforços dos educadores para moldá-la como cera mole, conforme as próprias concepções”. (BERGE, 1968, P. 106).

Há criança que se destacam no ambiente escolar por estarem constantemente xingando e batendo nos colegas, tomando seus brinquedos e geralmente tentando ferir o corpo ou o sentimento dos outros. Essas crianças são chamadas de agressivas, e normalmente constituem-se num terrível problema para o professor.

 É comum percebermos em meio aos professores, uma constante insatisfação e incômodos causados por esses alunos que são considerados agressivos. Não raro são as queixas dos colegas e até mesmo dos pais destes frente às atitudes agressivas que determinadas crianças apresentam na escola.

 A agressividade infantil tem sido vista apenas como algo negativo. Mas o que a agressividade representa realmente na vida da criança? O que de fato vem a ser a agressividade?

Neste trabalho abordaremos conceitos de alguns teóricos no que se refere à agressividade infantil, buscando dessa forma obter uma maior compreensão do termo “agressividade infantil”. Tentar-se-á também mostrar o papel da agressividade no desenvolvimento da criança, desmistificando assim o negativismo da agressividade no ambiente escolar.

Mas há duvida de que a agressividade é necessária ao desenvolvimento do ser humano. Uma atitude agressiva da criança pode estar mostrando a sua insatisfação perante alguma coisa. Pode estar representando um protesto, uma discordância.

 Ser agressivo é muitas vezes não aceitar aquilo que lhe está sendo imposto. É reagir às situações as quais se está submetido.

A agressividade infantil precisa ser encarada de forma positiva. É importante que os comportamentos agressivos sejam direcionados de maneira que se manifestem de forma mais consciente e compreensível.

 Há, entretanto, segundo alguns teóricos, diferenças entre os comportamentos agressivos. De fato algumas crianças agem de forma rude e hostil por causa de outros fatores. Muitas delas podem estar sendo influenciadas por exemplos que tem sua própria convivência, ou mesmo pela violência exposta pela televisão. Enfim, muitos são os fatores que levam a criança a manifestar comportamento agressivo.

Numa segunda parte desse trabalho, abordarei também, as possíveis causas da agressividade infantil na visão de alguns teóricos.

Por fim, concluirei o estudo abordando um pouco da questão da relação do professor com a agressividade infantil.

O professor tem tentado a todo custo extinguir os comportamentos agressivos, baseando-se na maioria das vezes numa disciplina coercitiva, onde o aluno sofre punição pelas ações que comete. Há entanto, tal atitude não tem conseguido alcançar os resultados esperados pelos profissionais de educação.

Alguns teóricos afirmam que a agressividade é extremamente necessária para a sobrevivência do ser humano deve ser “aproveitada” e trabalhada de forma que o individuo seja capaz de viver no meio social, de maneira equilibrada e consciente desenvolvendo o senso crítico e buscando alcançar uma vida melhor.

Diante de tudo isso, questiona-se: o que vem a ser realmente a agressividade?

A agressividade infantil é um comportamento negativo ou positivo no processo escolar?

É em busca do esclarecimento destas questões que este trabalho realizar-se-á.

O mesmo buscará apresentar a visão dos professores das séries iniciais do Ensino Fundamental, em relação à agressividade infantil, estabelecendo um confronto das idéias que os mesmos apresentam, com os posicionamentos de alguns teóricos, mostrando assim uma visão mais clara da agressividade.

Pela natureza deste trabalho, escolheu-se a realização da pesquisa qualitativa.

Realizado então questionários abertos com professores, que nos proporcionam conhecer como a agressividade infantil tem sido vista pelos mesmos.

 A escola escolhida reúne um total de dez professores das séries iniciais do Ensino Fundamental, sendo que sete responderam ao questionário apresentado, número suficiente para me oferecer os elementos fundamentais para esse estudo.

 Espera-se que, de alguma forma, o mesmo possa contribuir na relação do Professional de educação com agressividade infantil.

 1. O que é Agressividade Infantil?

A agressividade infantil é algo que, sem sombras de dúvidas, está presente no ambiente escolar. Constam ouvimos relatos de professores acerca daqueles alunos considerados agressivos.

Sabe-se, todavia, que nem sempre é termo “agressividade infantil” é bem compreendido e, conseqüentemente bem aplicado.

O que de fato vem a ser a agressividade infantil?

Considerando essa variável do comportamento humano nos deteremos a seguir em algumas definições de diferentes pensamentos do comportamento humano, no que diz respeito à agressividade infantil, em especial no ambiente escolar.

A ligação afetiva básica com pais e amigos é um aspecto importante do desenvolvimento da criança no relacionamento com outras crianças na rua, na escola ou em casa.

As crianças também demonstram atitudes de agressividade quando batem umas nas outras, nos pais, ou também ofendem e ferem os sentimentos dos outros xingando ou agindo com atitudes violentas.

Se observarmos o sentido que a língua portuguesa define agressividade, encontramos definições como:

marcador

Qualidade de agressivos. Disposição para agredir.

marcador

Que envolve ou denota agressão.

 Os psicólogos de diferentes tendências teóricas têm alguma discordância básica sobre como definir agressividade. A questão central desse debate é se as agressividades observáveis ou pela intenção da pessoa que apresenta o comportamento (Paul, 1988).

            “A agressividade é uma tendência ou conjunto de tendência que se atualizam em comportamentos reais ou fantásticas que visam prejudicar o outro, destruí-lo, humilhá-lo. A agressão não conhece outras modalidades além da ação motora violenta e destruidora, não existe comportamento, quer negativo (recusa de auxilio) quer positiva (ironia, por exemplo) ou efetivamente concretizada, que possa funcionar com agressão.” LAPLANCH e PONTALES (2001, p. 196)

 Ao considerar a frase de desenvolvimento da criança, segundo Piaget (1983), no estágio, pré-operatório, ela vê o mundo com sua própria visão, pois se concentra no eu, como se tudo ao seu redor lhe pertencesse e na tentativa de resolver suas próprias situações é capaz de usar seu próprio egocentrismo para conquistar aquilo que imagina lhe ser por direito, numa tentativa com como diz Darwin de “adaptação...”.

Massolo, afirma ainda que não há nada particularmente na espécie humana em estado natural.

Na visão de Rousseau e Darwin, a sociedade é responsável pela atitude agressiva expressa no homem, mas ele em si não é agressivo.

Houvesse uma sociedade que saciasse as mínimas necessidades, a agressividade desapareceria. Quando o eu não se der por satisfeito, não completa seu desejo de plenitude, então surge à agressividade, confirmando assim o estágio pré-operatório de Piaget.

 Estes representantes (Darwin e Rousseau), afirmam ainda que a agressividade humana seja uma ferida marcisica.

Quando a auto-estima está ferida a agressividade é manifestada, a tolerância é curta frente à frustração, assim a pessoa exprime uma reação, por não ter o resultado que se esperava. Isso nos faz questionar se é bom ou não ao sujeito exteriorizar a sua agressividade e em que isso afetaria o outro ser ou situação que está à frente.

Em outro conceito, em linguagem corrente a criança agressiva é a criança não devidamente socializada, que exerce sobre o meio uma ação hostil. (Ofélia, 1965. P. 228).

 O conceito acima definiria a criança como não preparada para o convívio em sociedade, pois reage de forma contrária ao que seria normal em seu meio social, pois o comportamento agressivo a levaria a atitude que estaria em choque aos conceitos de comportamentos ideal do seu ambiente de vivencia.

 Em terminologia psicologia;

            “A agressividade é a força que leva a agir e que, portanto permite e busca de um estado de equilíbrio sempre que o mesmo é rompido. Só impulsionado por força pode o homem adaptar-se às condições de vida em grupo, sobrevivendo como animal e como ser social pode em fim realizar-se, auto-afirmando.” (Cardoso, 1967, p. 228)

O tipo de agressividade acima citado por Cardoso, (1967) aquele,

            “Que projeta o homem para o ambiente é a HETEROAGRESSIVIDADE, que se pode apresentar em potencial mais ou menos elevado, chegando mesmo ao exagero de se transformar em heterodestruição, que se culmina no homicídio”. (p.19).

 O meio através de uma ação inadequada, incumbe-se de exagerá-lo, transformando a heteroagressividade normal em elevada heteroagressividade racional, o que revela uma reação às influências negativas do ambiente.

 Ela afirma ainda que a auto-agressividade é uma realidade em nossa cultura, desde que se mantendo em certos limites, permitindo ao homem estudar suas próprias atitudes e criticas a se mesmo. “Um individuo sem força auto-agressiva seria incapaz da autocrítica” (Cardoso, 1967, p 30).

Se a auto-agressividade predominar sobre a heteroagressividade, com elevado potencial, de termina-se entre outros, o comportamento masoquista. O masoquismo define-se como o prazer no próprio sofrimento.

Normalmente a auto-agressão não preocupa os pais, até mesmo pela falta de conhecimento. A auto-agressividade não perturba muito a vida familiar, pois toda à agressão se dirigi ao próprio individuo, enquanto isso a heteroagressividade desencadeia problemas sociais mais graves.

A criança que apresenta grande tendência heteroagressiva necessita de uma atenção especial no processo educacional, transformando essa força, para que haja adaptação social.

Quando reprimida, a agressividade pode transforma-se em comportamento anti-sociais quando mais próprias decisões, enfrentaram até mesmo os pais, sentindo-se com força para se opor a autoridade dos mesmos.  (Cardoso, 1967)

A atitude, dos pais deve ser a de transformar essa energia, mas nunca reprimir o potencial heteroagressivo, mas usar de forma criativa e construtora toda essa energia na utilização de jogos e atividades que use o esforço físico e a imaginação.

A grande preocupação é como encontrar a forma de aproveitamento da força, de modo que ela possa mostrar socialmente, sem estar contra a ordem social. Porém quando há essa tentativa de inserir a criança neste contexto modelar, os problemas podem aparecer, através das agressões a pais, familiares e outras crianças, com atitudes de rebeldia e palavras agressivas às pessoas que exercem autoridade sobre ela, como pais, professores e pessoas mais velhas.

 Ao contrário do que afirma a linguagem corrente, a Psicologia coloca a agressividade como um comportamento necessário à sobrevivência humana, sem a qual não é possível haver o autocontrole da força sempre que estas ameaçadas de romper.

A agressividade busca sempre um equilíbrio a fim de ajustar-se ao convívio social, promovendo a auto-satisfação e a auto-afirmação naquilo que lhe é necessário para sobreviver. Podendo ser percebida como um comportamento positivo diante da adaptação, auto-realização e satisfação do ser humano (Cardoso, 1967).

Bandura (1973, p.5) afirma que agressão e o comportamento que resulta numa injuria pessoal ou na destruição da propriedade. Ele ressalta as conseqüências da ação e não a intenção do autor.

Ieshbach (1970) e outras assinalam a agressividade como a intenção de ferir a pessoa. Deste ponto de vista, a agressividade geralmente é definida como qualquer ação que pretende danificar alguém ou alguma coisa.

Para Leonard (1898, p.447) o controle do comportamento de desenvolvimento para a criança, que deve aprender a inibir sua cólera, a discriminar entre aquelas situações nas quais comportar-se agressivamente é apropriado ou não, e a ajustar sua resposta agressiva ao grau de frustração ou provocação, ao qual ela possa estar submetida.

Em seu livro “Na Sala de Análise” (1998) Ferro afirma que a agressividade necessita num entanto, como toda a proto-emoção da criança de ser tratada através do campo relacional onde a criança vive para tornar-se compatível com o mundo em volta e com as necessidades do mesmo, que possa ser expressa para o crescimento, sem tornar-se destrutiva para com os outros e para si mesmo.

 Ferro (1998) afirma ainda que às vezes esse processo fracasse e a criança encontra-se tendo que administrar quotas elevadíssimas e não trabalhadas de agressividade crua. Colocando em ato as mais variadas defesas que muitas vezes comportou a paralisação da própria agressividade e de todo desenvolvimento emocional.

            Os teóricos da aprendizagem social como Bandura (1973) argumentam que tem modelos agressivos para aprender, mostrarão um maior número de comportamentos agressivos com os outros.

Assim, é sumamente importante que o professor, não só encare a agressividade infantil como algo positivo, como também desenvolva um trabalho que direcione essa agressividade para o desenvolvimento da criança.

 1.1. Possíveis Causas dos Comportamentos Agressivos

Apesar de divergirem em alguns pontos, do conceito de agressividade infantil, os estudiosos do desenvolvimento da criança não têm dúvidas em afirmar que a mesma é de fato, algo real no mundo infantil.

Diversas são as formas pelas quais a agressividades se apresenta. E, ainda constitui-se num grande problema para os profissionais de educação a forma mais adequada para lidar com a mesma.

Mas afinal, por que as crianças demonstram-se agressivas nos ambiente escolar?

Quais as causas da psicanálise, a agressividade humana aparece quando o outro não atende as expectativas que se tem dele.

“Espera-se outra coisa, e como o outro não dá essa outra coisa que se espera que é sempre sobre a base do ideal completamente, aí aparece a vivencia de desestruturação desse eu e com ela a agressividade” (GROSSI e BORDIN, 1992, p. 49).

No questionário realizado com as professoras das séries iniciais do Ensino Fundamental do Centro Educacional Getúlio Vargas, forma apontadas causas para o comportamento agressivo da criança no ambiente escolar como: Influência do que vê no lar ou na televisão, falta de amadurecimento para lidar com as frustrações familiares e comportamentais, insatisfação com a escola e outros.

Estes aspectos são confirmados por Bee (1997), quando o mesmo coloca como sendo determinantes da agressividade, fatores biológicos e sociais como: temperamento, interações familiares, falta de limites e exposições freqüentes a violência televisiva.

A atitude dos adultos, principalmente dos pais, exerce forte influência no comportamento das crianças, podendo assim desencadear atos agressivos por parte das mesmas.

Há pais com tendência a tolerar e perdoar tudo. Assim a criança cresce com falta de senso de responsabilidade, pois tudo lhe foi tolerado na época em que deveria ter aprendido a suportar as frustrações. Quando mais tarde então lhe é exigido, pela sociedade, um determinado comportamento, a criança resiste, pois não está acostumado a cumprir normas e regras e responder às exigências do meio com comportamentos agressivos.

Existe também o comportamento oposto ao mencionado. Há pais que exercem uma disciplina muito rígida sobre os seus filhos. A disciplina exagerada inibe a necessidade de independência que a criança possui e, segundo Adrados (1980), a criança poderá se tornar medrosa de tudo que represente autoridade, ou, o que é mais comum um revoltado que não aceitará normas nem conselhos de ninguém.

A televisão também tem um grande papel na agressividade infantil. A violência transmitida pela mesma não é novidade para ninguém. Inúmeros são os desenhos infantis onde os conflitos são resolvidos por meio da agressão física. As crianças tendem então a imitar tais comportamentos visto que os personagens sempre conseguem o que querem.

 Há ainda alguns teóricos que apontam como sendo causas da agressividade infantil, a pobreza e os preconceitos.

 Devido à vida que leva, enfrentando sempre grandes dificuldades para conseguir aquilo que necessita, a criança desenvolve comportamentos agressivos, até como um meio de sobrevivência, mesmo que estes muitas vezes sejam manifestos de maneira e em momentos inadequados.

 As causas da agressividade infantil são inúmeras. Daí a importância do professor buscar conhecer a história de vida de cada aluno, antes de tomar atitudes diante do comportamento das crianças.

 1.2. O Papel da agressividade no desenvolvimento da criança.

Na formação do desenvolvimento humano, o ambiente e a hereditariedade, exercem continuamente, uma interação mútua.

Durante este desenvolvimento, surgem de forma previsível os padrões de comportamento sensório motor, mental e social, que influenciados pelo ambiente como pela hereditariedade exercem o amadurecimento dessas frases operacionais.

Os primeiros anos de vida da criança constituem um período muito sensível onde acontece o seu “despertar”. É um período curto, que, entretanto pode sofrer fortes mudanças devido à experiência posteriores que podem reverter as vivenciadas anteriormente.

São particularmente úteis as teorias do estágio para a compreensão do desenvolvimento das primeiras capacidades que aparecem de forma esperada e organizada e que dependem principalmente do corpo e do sistema nervoso.

Segundo Piaget, o paladar, a visão, o tato e o olfato e a manipulação, constituem-se em suas experiências durante os 24 meses de vida, ou seja, o uso do sistema sensorial motor.

Pode-se perceber também que neste estágio sensório motor as crianças aprendem a conduzir o comportamento para metas especifica. Chutar, para livrar-se dos cobertores, levarem objetos à boca na tentativa de sugá-los, mexer em objetos para ouvir barulhos, conduz a descobertas que seu planejar definem determinados comportamentos com resultados definidos.

Há ainda capacidade de imitar respostas novas complexas e exatas, mesmo quando o modelo está ausente. Uma criança que percebe alguém tendo um acesso de mau humor pode tentar ter ataque repentino de mau humor tempos depois, no entanto para tal reação a criança guarda em quadro mental no momento. A imitação apresentada mostra, portanto que as crianças começam a formar as representações simples desses acontecimentos durante seus dois primeiros anos de vida. Entretanto a maior parte do pensamento da criança está limitada a ações durante o estágio sensório motor.

Já as crianças na idade de dois a sete anos direcionam-se fortemente pelas percepções da realidade, através da manifestação de objeto concreto elas conseguem resolver questões, embora tenham dificuldade de lidar com visões abstratas dos mesmos problemas.

O egocentrismo, segundo Piaget (1983) caracteriza o pensamento da criança nesta etapa pré-operatória. Elas tentam ver o mundo com sua própria visão. Acham difícil por se no lugar das outras pessoas ou até mesmo entender que existem outras formas de se ver e compreender as pessoas e o mundo ao seu redor lhe pertencesse e tivessem a capacidade de compreender e resolver qualquer situação e agem algumas vezes como invencíveis super-heróis.

As crianças entre os sete e os onze anos conseguem realizar operações mentais silenciosas, ou seja, conseguem usar a lógica para compreender o porquê das coisas. Elas já não só guardam incontestavelmente por informações sensoriais simples, por essa habilidade lhe permiti uma compreensão mais abstrata das coisas. Piaget chamou essas habilidades de operações concretas, quando as crianças já usaram o raciocínio para resolver problemas com recursos de categorização e ordenação de objetos.

A criança já consegue diferenciar o real da aparência, uma é temporária e outra permanente, desenvolvendo assim esse insight fundamental.

Embora as crianças, no estágio das operações concretas, trabalhem com objetos usando a lógica, e baseiam com raciocínio, elas ainda não são plenamente capazes de lidar com idéias abstratas. Elas resolvem problemas através da tentativa e erro, em vez de usar de uma estratégia eficiente e sistemática.

Esta fase do desenvolvimento infantil é de real importância na formação psicológica e no caráter da criança. Quando bem estruturadas a ajudará no equilíbrio emocional e quando não bem direcionadas ou desestruturadas tende a causar uma série de distúrbios emocionais provocando diferentes reações entre elas à agressividade.

Geralmente os professores têm um modelo de aluno que aprende. O modelo de bom aluno é ser aplicado, obediente, respeito, cumpridor, agradável, limpo, estudioso, etc. O aluno que foge a este padrão é visto como rebelde, difícil, desinteressado. Enfim, um aluno-problema que só atrapalha o trabalho do professor.

Segundo Fernandez (1992), este modelo de aluno que aprende é mais facilmente aceito pelas meninas do que pelos meninos, pois coincide com o que a sociedade exige delas como mulheres, sendo assim menos contraditório. No entanto, a sociedade exige um outro comportamento por parte do homem, e isto faz com que o menino tenha alguns conflitos na escola. Assim, muitos meninos constroem problemas de aprendizagem que se constituem em defesas reativas frente a esta situação tão confusa. Tais defesas então podem ser demonstradas através de comportamentos agressivos. Daí então se afirmar que as meninas mostram-se menos agressivas que os meninos.

Retornando a parte inicial deste trabalho podemos ver que ao contrário do que afirma a linguagem corrente, a psicologia coloca a agressividade como um comportamento necessário à sobrevivência humana, embora a mesma tenha sido vista apenas como um fator negativo no desenvolvimento da criança. Na psicologia, a agressividade é percebida como um comportamento positivo diante da adaptação, auto-realização e satisfação do ser humano. (Cardoso, 1967).

Das professoras do Centro Educacional Getúlio Vargas que responderam ao questionário sobre agressividade infantil no ambiente escolar, percebeu que apenas uma tem uma visão positiva da agressividade, segundo a mesma “a agressividade pode ser uma alavanca que impulsiona o aluno a competir, a lutar”.

A agressividade faz parte da criatividade, Winnicott (FERNANDEZ, 1992), disse algo assim: “É necessário que o adulto entenda, aceite e valorize que a criança necessita derrubar a torre de blocos de montar para que ela possa valorizar a sua própria capacidade de construir torre de blocos”. (1992, p. 175).

Com esta frase ele diz que para poder tomar contato com a capacidade de aprendizagem, é necessário tomar contato com a possibilidade de que também se pode destruí-lo.

Se um adulto ou professor impedisse uma criança, dizendo-lhe que é muito agressivo, derrubar uma torre de blocos, ou mesmo desmontar algum brinquedo então esta criança apresentará dificuldade para reconstruí-los.

Isso também acontece na relação aluno x professor. Muitos alunos são proibidos de derrubar os conhecimentos dos outros, usando sua agressividade, que é a única forma que eles têm no inicio de construir conhecimentos.

Esse fato causa sérios prejuízos no desenvolvimento da criança, que podem tornar-se totalmente passivos, mostrando-se fraca, incapaz de lutar pelos próprios direitos.

2. Apresentação Analise e Interpretação dos dados das entrevistas dos professores, com relação à agressividade infantil.

É comum quando se comenta com professores, entre outros assuntos, sobre o tema da agressão de seus alunos, sempre aparece à pergunta “O que tenho que fazer?” Esse comportamento revela a insegurança dos profissionais de educação, no que se refere a como lidar com os comportamentos agressivos que seus alunos apresentam.

Muitas vezes, o professor não tem idéia do que realmente vem a ser a agressividade infantil e que papel essa representa no desenvolvimento da criança.

Ainda através dos questionários aplicados às professoras das séries iniciais do Ensino Fundamental do Centro Educacional Getúlio Vargas, pode-se perceber o que todas as professoras entrevistadas relatam que têm, ou pelo menos já tiveram alunos agressivos em sua sala de aula.

Elas afirmaram que alunos agressivos são aqueles que resolvem algumas situações de forma rude e violenta, batem nos colegas ou os agride de forma verbal, brincam constantemente de lutas, e agem impulsivamente, partindo para a violência por qualquer motivo.

A maioria das professoras diz não entender os comportamentos agressivos dos alunos. Chegam até mesmo a afirmar que os mesmos agridem os colegas sem ter motivos. Não consegue enxergar o que está por trás dos atos agressivos segundo Berge, (1968) a versatilidade de gênio, o desassossego, a irritabilidade, o intervencionismo ou pelo contrário, os descuidos completos dos pais, são outros tantos fatores que dão origem ao nervosismo, porque criam um clima de insegurança e provocam uma angústia que gera às vezes uma espécie de desatino que se traduz por um procedimento extravagante, por acessos de violência nem sempre compreendido pelas pessoas que cercam a criança.

Daí mais uma vez a necessidade do professor buscar conhecer a história de vida de seus alunos, a fim de perceber as possíveis causas de comportamentos agressivos que alguns manifestam.

Na fala das professoras pudemos perceber que o aluno que comete atos agressivos é visto como uns alunos violentos, que representa uma ameaça aos que estão ao seu redor. Entretanto, faz-se necessário uma análise, mais profunda dos casos de agressividades na escola, a fim de que os professores não cometam injustiças e agravem ainda mais a situação. “Quando um menino bate grosseiramente em um camarada, o mais digno de lástima é o agressor, é ele que está correndo risco e necessita urgentemente de alguém que se ocupe dele” (BERGE, 1968, p. 151).

Infelizmente o que percebemos nos ambientes escolares é tentativa de eliminar o “problema da agressividade”, até mesmo excluindo aqueles que cometem atos agressivos.

A agressividade então está sendo vista pelas professoras como algo violento, rude e ofensivo. Nota-se que o termo agressividade e o termo agressão estão se confundindo.

O uso comum do termo “agressivo” traz consigo conotação de afirmação pessoal bem como de hostilidade. Sabe-se que há uma diferença entre aquilo que é produzido pela competição, daquilo que é instigado pela agressão. No entanto, esta discriminação não é fácil de ser feita e, o professor acaba por tentar inibir todos os comportamentos agressivos, o que muitas vezes, inibe também a aprendizagem do aluno.

O problema consiste então em encontrar formas de aproveitamento da agressividade, de modo que ela possa se exprimir socialmente, sem hostilizar, nem se opor aos grupos sociais.

Quando foi perguntado às professoras do Centro Educacional Getúlio Vargas, sobre como as mesmas têm lidado com os comportamentos agressivos de seus alunos, elas responderam que comumente, comunicam aos pais os incidentes ocorridos, conversam com os alunos em classe, realizam leituras que tratam do assunto, buscam apoio no setor de disciplina da escola, encaminham a psicólogos, e às vezes lhe tiram alguns direitos.

Percebemos que nas respostas dadas não existe nenhum tipo de aproveitamento da agressividade. Apenas uma busca de tentar extinguir a mesma.

Uma das professoras entrevistadas, respondeu à pergunta de como tem lidado com comportamentos agressivos da seguinte forma: “de forma rígida às vezes, e/ou conversando.”.

Percebe-se então que o professor tem-se mostrado agressivo, para combater a agressividade do aluno. Desse ponto de vista, não seria a agressividade necessária à vida? Por que o professor pode mostrar-se agressivo, e o aluno não?

Não é fácil lidar com comportamentos agressivos. Muitas vezes aquilo que está sendo feito em relação aos mesmos, pode contribuir para que a agressão tome o lugar da agressividade. Muitas vezes até o próprio ambiente contribui para que a criança manifeste comportamentos agressivos.

É papel de o professor esforçar-se no sentido de modificar as condições que favorecem o aparecimento das perturbações que os preocupam.

O outro ponto importante é que o professor deve aproveitar a agressividade como força criadora, como fator máximo de auto-afirmação da personalidade. Quando o professor age de forma coercitiva, dando punições aos alunos pelos atos agressivos que este comete, ele estará impossibilitando de dar expressão social às forças agressivas (Cardoso, 1967).

Percebe-se, às vezes também por parte do professor, uma disciplina que utiliza a exploração dos sentimentos, como por exemplo: não força isso, porque a professora fica triste. Essa forma de agir anula as possibilidades de auto-afirmação da criança, tornando-a receosa, cheia do temor do castigo que lhe advém do mundo desconhecido que, assim, lhe aparece ameaçador (1967 p. 41).

Segundo Cardoso (1967). A criança que nasce dotada de um elevado potencial agressivo precisa ser atendida de forma um tanto especial, no processo educacional, de modo que essa força seja transformada energicamente, que facilite a adaptação social.

É importante que o professor, estimule as crianças menores, a utilizarem brinquedos que tenham partes para serem manipuladas, retirada, colocadas, desmontadas, a fim de que a criança vá desenvolvendo a sua capacidade de destruir para construir.

Nota-se então que a relação do professor com a agressividade infantil tem sido permeada de dúvidas, inseguranças e atitudes conservadoras, buscando sempre enquadrar o aluno dentro dos padrões que a sociedade estabelece.

Tais medidas não têm alcançado os resultados esperados e, muitas vezes só tem contribuído para o aumento de comportamentos agressivos no ambiente escolar.

O professor então, desesperado, busca auxilio na família, a qual, na maioria das vezes, também tem uma visão negativa da agressividade, e adota postura também agressiva para com a criança, ocasionando assim, um ciclo vicioso.

O auxilio também é pedido ao serviço de Orientação Educacional. Este, por sua vez, dotado de mecanismos ultrapassados tende a de certa forma excluir os alunos agressivos do ambiente escolar. Ou são removidos da instituição, ou são vistos constantemente como “maus alunos” dignos das mais cruéis punições.

Tudo isso leva o professor a ficar mais desesperado ainda, visto que todas as providências que vêm sendo tomadas, não estão contribuindo para uma convivência mais saudável na escola.

Surge mais uma vez a pergunta: O que devo fazer?

Segundo Fernandez (1992), não é possível dar receitas prontas, dizendo o que fazer frente a crianças que cometem atos agressivos, pois isso seria também um ato agressivo para com os professores, já que os estaria impossibilitando de usar sua própria agressividade para descobrir o que fazer com os atos agressivos.

Ela, entretanto nos dá uma lista de contra-receitas são: possibilitar um espaço de aprendizagem e, dirigir a agressividade para o desafio por conhecer e ao contato com a pulsão de domínio do objeto de conhecimento.

Mesmo que o professor tenha conseguido atingir esses dois pontos, pode ser que ainda assim apareçam atos agressivos. Para isso haveria outras contra-receitas:

marcador

Buscar dentro do aluno a agressividade necessária para que possa estender sua possibilidade construtiva.

marcador

Perguntar-se frente a cada ato agressivo: Por que me incomoda esta agressão?

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Incluir-se em um espaço simbólico, o que seria perguntar-se a quem ou a que agride esta criança, quando comete um ato agressivo.

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 Falar a sós com o agredido, primeiro, sem identificar-se com ele.

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 Falar com o grupo sobre o ato agressivo, deixando que ele seja seu cúmplice em relação a assinalar como negativo este ato agressivo.

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 Perceber que cada criança que comete atos agressivos é diferente de outra.

marcador

 Impedir que os alunos se machuquem, quando a atuação agressiva já está em ação.

Vale ressaltar, todavia, que cada sala de aula é um mundo, com crianças diferentes, que possuem histórias de vida diferentes.Para que o professor possa ter uma relação saudável com a agressividade, é extremamente importante que ele conheça seus alunos.

É também importante que ele veja a agressividade como algo positivo no desenvolvimento da criança, de forma que a mesma possa ser transformada e aproveitada na criança, na construção do conhecimento.

O professor não tem conseguido ainda perceber o valor da agressividade. Isso se revela na falta de algumas professoras entrevistadas. Quando se perguntou às professoras do Centro Educacional Getúlio Vargas, que a agressividade representa no processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança, deram as seguintes respostas: “dificulta o processo ensino-aprendizagem e impede o bom relacionamento e desenvolvimento da criança.”.

  “Atraso. É prejudicial.”

O caráter positivo da agressividade ainda encontra-se obscuro na prática pedagógica, e isso tem fito com que os professores tome atitudes inadequadas frente aos comportamentos agressivos. No entanto, nota-se um avanço nesse aspecto, ainda que muito timidamente, quando a maioria das professoras relata que têm tentado resolver a questão da agressividade por meio da conversa com os alunos, e não através de punições.

A conversa possibilita assim, que o professor tenha um conhecimento maior de seu aluno. E, conhecendo-o melhor, ele poderá ter uma melhor compreensão do porque daquele aluno apresentar comportamentos agressivos na escola.

Entretanto, o trabalho do professor com a agressividade, vai além da conversa, já que esta muitas vezes, é realizada na tentativa de adquirir meios para inibir comportamentos agressivos.

Assim, mais uma vez ressaltamos a necessidade, da agressividade infantil ser vista pelo professor de maneira positiva, pois só assim o mesmo reconhecerá a importância que esta bem no desenvolvimento e aprendizagem da criança, e buscará formas de orientar os comportamentos agressivos em função dos desenvolvimentos agressivos em função do desenvolvimento das potencialidades do aluno, auxiliando-o a ser alguém que tenha consciência de seu papel no meio social em que está inserido.

 

TEXTO - 3

Comportamento

A agressividade infantil

A agressividade infantil é um assunto bastante amplo e podemos notar suas raízes desde o início das relações das crianças ainda na educação infantil.

Precisamos inicialmente, discernir o que é inerente a determinada faixa etária ou sexo e o que está fora dos padrões esperados pelos mesmos.

Segundo a teoria piagentiana podemos classificar o desenvolvimento cognitivo em diversas etapas. Na educação infantil, passamos basicamente por duas delas: Sensório-motora que vai do nascimento aos dois anos de idade. Nesta fase a criança se utiliza basicamente dos sentidos para conhecer o mundo. Tudo aqui acontece por reflexos e a criança leva tudo à boca; Pré-operatória que vai dos 2 aos 7 anos onde a criança começa a adquirir noções de tempo, espaço. Ainda não há raciocínio lógico e as ações para ela ainda são irreversíveis.

Uma criança que morde o amiguinho até dois anos de idade, não pode ser rotulada como agressiva. Ela ainda não sabe usar a linguagem verbal e a linguagem corporal acaba sendo mais eficiente. A criança nesta fase, é egocêntrica e acredita que o mundo funciona e existe em função dela. Uma das primeiras maneiras de relacionamento é a disputa por objetos ou pela atenção de alguém querido – como a mãe, o pai ou o professor. A intenção da criança, ao morder ou empurrar, é obter o mais rápido possível aquele objeto de desejo, já que não consegue verbalizar com fluência. Esta fase de disputa é natural e quanto menos ansiedade for gerada, mais rápida e tranqüilamente será transposta. É claro que o adulto não deve apenas assumir a postura de observador e sim, interferir quando necessário, evitando que se machuquem, e explicando que a atitude não é correta. Enfim, impondo limites! Porém não devem supervalorizar a agressão, pois as crianças ainda não conseguem entender que estão machucando.

A agressividade pode ser hostil, com a intenção de machucar ou ser cruel com alguém, seja física ou verbalmente. Ou ainda pode aparecer com o intuito de conquistar uma recompensa, sem desejar o mal do outro.

A agressividade aparece ainda em reação a uma frustração. Birras, gritarias e chutes. Comportamento comum, porém necessário ser amenizado até extinguido mais uma vez explicando à criança que não é um comportamento adequado.

Outro aspecto fundamental ao desenvolvimento de comportamento agressivo é o meio ambiente em que a criança está inserida, família, escola e estímulos recebidos por meios de comunicação. Há, lógico ainda, fatores individuais, inatos como sexo e hereditariedade.

É essencial saber discernir quando um comportamento agressivo é passageiro, por motivos temporários, como o nascimento de um irmãozinho, a hospitalização ou perda de um ente querido, ou ainda por mudança de casa ou escola ou se pode ser considerado como um transtorno de conduta, caso em que é necessário um acompanhamento de especialista para auxiliar a sanar o problema. Se não dermos a devida importância nesta fase essas atitudes poderão evoluir de forma prejudicial na adolescência e vida adulta, podendo transformar a criança em agente ou alvo de Bullying, que veremos mais à frente.

A diferença de sexo também pode indicar um aspecto da agressividade. Diversas pesquisas apontam para uma capacidade precoce das meninas, em relação aos meninos para adaptarem-se em grupo e socializarem-se com maior facilidade. Meninos tendem a apresentar mais problemas para adaptação social.

Por volta dos três anos, as crianças já acrescentaram milhares de palavras ao seu vocabulário e começam a descobrir o prazer em brincar com o outro e se comunicar. O egocentrismo começa a sair de cena e começa a socialização. Nesta fase, o comportamento agressivo intencional, ainda aparece esporadicamente e via de regra, não apresentam uma continuidade. Já aos quatro, cinco e seis anos identificamos alguns comportamentos de discriminação que podem ter repetidamente o mesmo alvo. Aparecem os conflitos, “panelinhas”, provocações e humilhações. É aqui que pais e educadores devem estar atentos para poder inibir esse comportamento antes que ele se instale e seja mais difícil de eliminá-lo.

Um caso típico, citado em artigo de Antônio Gois e Armando Pereira Filho para a Folha de São Paulo, é o de um menino de 4 anos que era tímido e falava pouco. Os coleguinhas e a própria professora “brincavam” dizendo que ele havia perdido a língua. Isso causou um bloqueio na fala e desenvolvimento da linguagem da criança.

Precisamos também diferenciar as vivências que a criança tem na família e as que tem na escola, onde ocorrem geralmente os comportamentos agressivos. Em casa, via de regra, a criança é sempre querida, amada e compreendida, o que não acontece no convívio social onde precisa conquistar os amigos e inserir-se no grupo.

Muitas crianças recebem apelidos relacionados a aspectos físicos e desempenho (gordinho, vara pau, zarolho, burro, chato, etc). Aqui o papel do professor é essencial ao identificar e trabalhar com esses aspectos evitando que se repitam. A dramatização é uma ferramenta excepcional para fazer com que as crianças vivenciem papéis. Essencial ainda é discutir sempre as experiências depois de dramatizadas. Criar regras elaboradas em conjunto também é uma ferramenta eficiente. Quando as próprias crianças criam as regras elas ganham um significado maior e têm um grande impacto nas ações. Deve-se também trabalhar valores morais éticos como solidariedade, compartilhamento, cooperação, amizade, reciprocidade dentre outros. Se o professor cria um ambiente com atividades prazerosas durante todo o período de aula, a probabilidade de que comportamentos agressivos surjam é muito menor.

Lembre-se: a agressividade só deve ser tratada como um desvio de conduta quando ela aparecer por um longo período de tempo e também se não estiverem ocorrendo fatos transitórios que possam estar causando os comportamentos agressivos.

É preciso observar, tirados aspectos transitórios, se a criança:

marcador Sempre teve, por parte da família a realização de todas as suas vontades, fato cada dia mais comum, quando ambos pais trabalham fora e sentem-se culpados por ter pouco tempo disponível para o filho e acabam “tentando” suprir esta lacuna com permissividade excessiva, sem impor limites.
marcador É muito exigida e pouco elogiada. A criança acaba perdendo parâmetros, pois mesmo fazendo o máximo para acertar, ainda é pouco para o grau de exigência dos pais ou professores.
marcador Tem dificuldades em relacionar-se com outras crianças, mantendo-se afastada do grupo. Foi vítima de alguma agressão ou abuso sério.

A personalidade da criança forma-se até os seis anos de idade e por isso, toda experiência e sua qualidade vividas nessa fase é de fundamental importância. Por mais que, às vezes, possa parecer ineficaz, elogio, afeto, prazer e compreensão tem resultados muito mais rápidos e menos estressantes do que bronca, castigo, sofrimento e indiferença.

É muito importante detectar e combater o comportamento agressivo ainda na primeira infância, pois quando criança não encontra obstáculos ou alguém que a alerte mostrando que não é um comportamento adequado, ela percebe que consegue liderar e tirar proveito destas situações e no futuro certamente tornar-se-á um agente do bullying e muito provavelmente um adulto violento.

E afinal, o que é bullying?

Bullying é um tipo de comportamento que sempre existiu, e que recentemente foi batizado com um nome. Não existe uma tradução precisa para o português. Refere-se a todo tipo de comportamento agressivo que ocorre sem nenhuma razão aparente.

Muito provavelmente você já tenha sido alvo de bullying quando era pré-adolescente ou adolescente. Ações repetitivas e desequilíbrio emocional são as suas principais características.

A primeira dificuldade que os pais enfrentam é identificar se seu filho está sendo alvo deste tipo de comportamento, pois há criança que se sente ameaçada e reluta para falar a respeito disso.

Preste atenção nas ações que os bullies (quem pratica o bullying) costumam praticar:

 

TEXTO - 4

Agressividade infantil

kids-fighting

Por Maria Irene Maluf *

Entenda um pouco mais sobre o comportamento violento das crianças

Este é sem dúvida um complexo e desafiante assunto para pais e educadores, que ao atingir mundialmente grande dimensão, passou a ser estudado nas esferas da política e da segurança pública.

Infelizmente, não é raro ver ou ler nos jornais notícias alarmantes sobre atos de constrangimento causados por jovens que ainda deveriam estar brincando. Vandalismo público, violência familiar e escolar, agressão gratuita e auto-agressão estão documentados em artigos, fotos e filmes.

Essa grande incidência de comportamento truculento entre grupos de jovens, que passam rapidamente da briga entre iguais, para o massacre físico e psicológico, cujo estudo vem preenchendo as prateleiras das livrarias – fruto da pesquisa de educadores e cientistas, alarmados com as conseqüências desse problema, que não está ainda totalmente esclarecido.

Como profissional ligada a educação e a saúde, tenho constatado pessoalmente que, ao longo destes últimos anos, o fato aumentou quantitativamente, e que cada vez crianças mais novas estão envolvidas nos acontecimentos, nem sempre como vítimas!

Difícil é explicar aos pais, porque até uma criança pequena pode ser autora de comportamentos impulsivos, explosivos, absolutamente fora do controle dos adultos, como ataques de birra, de verdadeira ira, depredação de bens, uso de vocabulário desrespeitoso, insolência, deboche, pouco caso, crueldade, destruição de propriedade alheia, entre outros.

Infelizmente, enquanto as crianças são pequenas, por uma questão de proximidade amorosa ou até por negligência, a família vai deixando passar as melhores ocasiões para educar, repreender e orientar. Muitos pensam: “puxou para fulano”, “eu era assim” ou “com o tempo passa”. Triste engano! Tirando as patologias psiquiátricas que justificam alguns desses comportamentos, o que falta é energia a esses pais e esclarecimento sobre o desenrolar futuro do modo de agir de seu pequeno tirano.

Limites e controle, não se ganham de um momento para o outro. É preciso aprender, vivenciar o respeito dentro da própria família. Infelizmente, vítimas de agressões físicas, abusos de toda ordem, maus-tratos emocionais e rejeição. Muitas crianças e jovens nem imaginam o que seja respeito ao próximo. Presenciam seus avós serem menosprezados, humilhados e explorados em todos os sentidos, passam por experiências diárias de brigas, discussões em seus lares, assistem à valorização excessiva dos bens materiais e o rechaço aos valores morais e espirituais.

Vivendo desde cedo em comunidades violentas, sem orientação de adultos, expostos horas e horas aos filmes, jogos, brincadeiras, todos veiculados na tv, Internet ou nas diversas publicações existentes. O comportamento truculento e impune torna-se cada vez mais arraigado e passa a fazer parte da personalidade da criança. Assim, com o tempo, com o acesso fácil ao álcool, às drogas e armas, o dinheiro fácil passa a ser o valor ambicionado, custe o que custar!

E não estou falando apenas de crianças abandonadas ou que vivem em periferias menos abonadas: sob uma capa de sofisticação, de falso modernismo, essas coisas acontecem em toda gama de classes sociais e econômicas.

É claro que o estresse socioeconômico na família, a miséria, a fome, a privação de afeto, o abandono da escola e o pouco cuidado dos pais tornam os indivíduos mais susceptíveis à agressividade. Porém, ela não é exclusiva desses ambientes, como qualquer manchete jornalística das páginas policiais.

Ataques de fúria, irritabilidade, impulsividade exagerada, intolerância à frustração e abandono da escola são comportamentos que devem chamar a atenção dos pais e professores, em qualquer que seja a idade em que se apresente.

Observar bem a criança e o jovem, procurar estar mais perto, acompanhá-lo e escutá-lo são as primeiras providências a tomar. Mas, ao mesmo tempo, é indispensável procurar orientação profissional, para que uma avaliação seja feita e um tratamento possa ser iniciado, para realmente ajudar essa criança a conter sua agressividade, arcar com responsabilidades e manifestar suas frustrações de maneira adequada. A família também deve ser orientada a melhor conduzir suas questões internas e seu modo de relação com o mundo.

* Maria Irene Maluf – Especialista em Educação Especial e em Psicopedagogia

FONTE: GUIA DA SEMANA